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quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Sobre os registros paroquiais de Desterro




Frei Agostinho da Trindade, primeiro vigário.


Este religioso da ordem dos Carmelitas, natural de São Paulo, com serviços em Itanhaém, foi ser uma figura de amplo mérito no Sul, havendo servido com igual mérito à Ilha de Santa Catarina e Laguna. A Ordem dos Carmelitas entrou no Brasil em 1580, com sede no Rio de Janeiro, e casa em São Paulo em 1694
Atendeu com realismo, deixando também descendentes. É bisavô, pelo lado materno, de Pe. José Mendes dos dos Reis, um dos nomes mais ilustres do clero colonial de Santa Catarina, o qual por sua vez também deixou descendentes (vd ). Finalmente o operosos Frei Agostinho da Trindade também cuidou junto à Metrópole, que a região fosse povoada (vd 386).
A importância da figura de Frei Agostinho da Trindade para Ilha principia pelo fato já citado de ter sido seu primeiro vigário, de que o documento mais antigo conhecido é o termo de casamento de 7 de janeiro de 1714, em que assina "Vigário desta Matriz".
Em Santa Catarina Frei Agostinho da Trindade foi a primeira grande figura do clero, a qual os de seu tempo fizeram justiça e ainda hoje não deve esquecer.


378. Termo do casamento de 7 de janeiro de 1714 dado como pragmaticamente, sendo o da mesma fundação da paróquia, hoje Catedral Arquidiocesano de Florianópolis:
 "Aos sete dias do mês de janeiro do ano de mil setecentos e catorze, perante o padre Frei Agostinho Trindade, religioso do Carmo, sendo vigário desta Matriz, se receberam em face da Igreja os contraentes Domingos Martins e Domingas da Costa. Foram testemunhas Baltazar Soares e Antônio Cordeiro, Merência Godinha e Maria Gerarda; e não continha mais o dito assento, que do caderno em que estava lancei neste livro, para todo o tempo constar. O Vigário Francisco Justo Santiago".


379. O primeiro batizado registrado acontece um ano e meio depois do de casamento, e é de 15 de julho de 1715, de um filho de José Velho, (cf. n. 84) realizado por Frei Tomé, companheiro de Frei Agostinho da Trindade:
"Aos quinze dias do mês de julho de mil setecentos e quinze, batizou e pôs os santos óleos o Rev. Pe. Frei Tomé a Thomaz, inocente filho de José Velho e de sua mulher Joana Bonilha. Foram padrinhos Francisco Antônio e o Cap. João Lopes. Frei Agostinho da Trindade" (Livro de Batizados, I, de Desterro).
Pelos espaços vazios no tempo, induz-se que muitos lançamentos, pelo menos dos batizados,  não foram feitos, ou se perderam nos restantes cadernos em que se anotavam. E assim é possível que o termo de 15 de julho de 1715 não fosse efetivamente o primeiro.


380.  A presença de Frei Tomé Bueno parece limitar-se aos  três primeiros anos, de 1714 a fins de 1716, como se infere dos assentamentos posteriores nos quais não reaparece. É o celebrante do segundo casamento havido na Matriz em 25 de outubro de 1714. Atendeu também ao terceiro, em 28 de outubro, do mesmo ano. Celebrou outro em 30 de setembro de 1715. Outro a 12 de agosto de 1716. O último em 30 de novembro de 1716. Nascido em São Paulo, teria seguido de retorno a seguir.
Frei Agostinho da Trindade se mantém, com interrupções,  até depois de 1730. Mas nenhum ato assinou nos livros paroquiais em 1717. Presume-se que se tenha retirado juntamente com Frei Tomé, já em fins de 1716. Retornando em 1718, está aparentemente sozinho.


381. Ameaça de morte ao primeiro vigário.  Integrado no meio ilhéu, Frei Agostinho da Trindade, com seus entusiasmos e aventuras de pequeno herói, está envolvido nos acontecimentos administrativos.
Quanto aos partidos,  sua posição parece a que se alinha com a de Francisco Brito Peixoto, em oposição a Manuel Manso de Avelar. Isto esclarece também sua presença em ambas as vilas.
Um incidente com uma parte da população, em 1720, leva Frei Agostinho a refugiar-se em outro ponto da Ilha, pois querem matá-lo.
É possível que o caso envolva a divisão existente entre o partido de Francisco Brito Peixoto de Laguna e o de Manuel Manso de Avelar.
Fora o sargento-mor da Ilha acusado de contrabandear com os navios franceses. No jogo da demanda, Brito Peixoto é preso em 1720, sendo depois liberto. Posteriormente, em 1721, o preso será Manso de Avelar, que estará solto em 1724, por influencia de Manuel Gonçalves de Aguiar e outros (vd ).
O incidente ocorrido em 1720 com Frei Agostinho da Trindade é amenizado com a interferência do jesuíta do colégio de Paranaguá, Luiz de Albuquerque, que então acompanhava o Ouvidor Rafael Pires Pardinho, que em 27 de janeiro daquele ano chegava em correição e instituía o distrito judicial da Ilha de Santa Catarina.
Tendo-se acalmado os ânimos, os forjadores do crime se sujeitaram a ir buscar o padre. Este, ainda receoso, manteve-se resolutamente fora do povoado.
Enquanto o Ouvidor fazia a correição, o jesuíta faz a vez de pároco. Inclusive celebra um casamento, tomando o cuidado de acrescer que andava em missão com provisão do reverendo vigário da Vara, o Padre Dom Antônio Rochadel, de São Francisco. A narrativa do incidente com o vigário efetivo se encontra no Arquivos dos jesuítas, em Roma,  sem os nomes dos padres em questão (Bras. 10 (I), 555 v. Cf. Serafim Leite, H. Da Companhia de Jesus no Brasil Vi, p. 467)..
 Mas, em vista do assentamento mencionado, temos o nome do jesuíta, além de já conhecermos por outros termos o do vigário, Frei Agostinho da Trindade.
O episódio teve novos desdobramentos, no futuro. Uma carta de 1635, de Manuel Gomes, de Laguna, ao Governador de São Paulo, elogiosa a Frei Agostinho da Trindade, ao mesmo tempo que acusando a Manuel Manso de Aguiar, se diz aditivamente que este, com 8 ordenanças de Desterro, havia ameaçado ao frade de morte, fazendo-o fugir para São Francisco.
O jesuíta interventor, que acompanha ao Ouvidor, invectivou ainda alguns abusos, em troca de usos mais conformes com as leis da Igreja. Parece haver aqui uma oposição entre o espirito puritanista do inaciano e a maneira aberta de pensar de Frei Agostinho da Trindade.
Examinou também o jesuíta a situação dos índios que estavam sendo escravizados, apesar das garantias legais. Apelando ao Ouvidor, fez com que fossem copiados no livro da Câmara os decretos que estabeleciam a liberdade dos índios.
Viu-os no alto de dois montes, "vivendo à maneira de feras, sem ninguém que lhes ensinasse as coisas da fé e política cristã". Tratava-se, pelo aspecto, de índios domesticados, entregues todavia à sua sorte.


382. Segundo Vigário e introdução dos livros paroquiais (1727).  Com o clérigo secular Pe. Francisco Justo Santigo, segundo vigário da Freguesia de N. Sra. do Desterro "e da Vara e da Vila da Laguna" (Tombo de Desterro, fl. 3), posse aos 19 de janeiro de 1727, principia a burocratização.
A anterior situação de precariedade não permitiu talvez que Frei Agostinho da Trindade houvesse dado maior importância à escrita documental, como nem o fizeram os demais que por aqui transitaram antes dele, fazendo batizados e casamentos sem os suficientes cuidados dos respectivos registros.
As circunstâncias ambientes talvez não permitissem o uso senão de simples cadernos de anotações,- como o fizeram. Com este procedimento poderão ter deixado de fazer assentos, ou tê-los feito precariamente, passando a perder-se  em consequência os registros dos primeiros batizados.
Mais tarde, em 1727, quando a administração já ia mais burocratizada nestes confins, os cadernos até então usados serão transcritos por outro titular da paróquia, que dará abertura a um primeiro livro de batizados, como também a um primeiro de casamentos.
Abrindo o de batizados escreveu, o novo vigário Francisco Justo Santiago, em página, que subsiste porque foi em tempo transcrita por Arcipreste Paiva ao livro do Tombo de Desterro:
"Tomamos posse desta paróquia aos dezenove de janeiro deste presente ano de mil setecentos e vinte e sete Vigário dela e da Vara e da Vila de Laguna por previsão do ilustríssimo e reverendíssimo senhor Bispo desta Diocese Dom Frei Antônio de Guadalupe, achei uns cadernos, onde se assentavam os batizados, e por me parecer coisa indecente, lancei todos os assentos de batizados que nele estavam de verbum ad verbum neste, para a todo o tempo constar.
Na seguinte folha começam os assentos dos escravos e administrados.
Vila de Santa Catarina, 20 de janeiro de 1727 - O Vigário Francisco Justo Santiago" (Tombo da Igreja Matriz de N. Sra. do Desterro, livro I, fl. 3).
Curiosamente o vigário ainda continua assinando "Vila de Santa Catarina", 9 meses depois que se criara o município de Desterro. Ver-se-á não muito depois que nem sequer o Rei usará este nome de mau gosto.


  http://www.cfh.ufsc.br/~simpozio/EncReg/EncSC/MegaHSC/SCcolonial/91sc0362.htm

https://web.archive.org/web/20071223143348/http://cfh.ufsc.br:80/~simpozio/EncReg/EncSC/MegaHSC/SCcolonial/91sc0362.htm

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