Marcadores

segunda-feira, 25 de julho de 2016

Comparação da população de procedência açoriana entre quatro freguesias de Santa Catarina


A terra: de Nossa Senhora das Necessidades a Santo Antônio de Lisboa


Segundo Oswaldo Rodrigues Cabral, a ocupação luso-brasileira de Santo Antônio
data de 11 de janeiro de 1698. O capitão-mor de São Francisco do Sul, Domingos Francisco Francisques, procurador do Marquês de Cascaes, último sucessor do donatário da Capitania de Sant’Ana, antes de ter a Coroa Portuguesa readquirido a capitania por compra, concedeu sesmarias de duas léguas compreendidas entre a Lagoa e o Rio Ratones ao Padre Matheus de Leão.

Esta área original das sesmarias compreende hoje os bairros João Paulo, Monte Verde, Saco Grande e os distritos de Santo Antônio de Lisboa e Ratones. A terra confrontava-se ao Sul com a propriedade dos herdeiros de Francisco Dias Velho,considerado o fundador de Nossa Senhora do Desterro. O padre teria se estabelecido com mais vinte casais.126 Se esta ocupação do Padre Matheus de Leão prosperou a historiografia não dá notícias.

Já sobre o segundo povoador, vários historiadores dele se ocuparam. Trata-se de Manoel Manso de Avelar, que é considerado o segundo povoador da Ilha de Santa Catarina e que morava na localidade de Sambaqui. Ele era, em 1725, Capitão de Ordenanças da Ilha quando o governador de São Paulo mandou que aumentasse a população da Ilha e construísse casas cobertas de telha. O capitão dizia residir na ilha desde 1700, era nascido em Lisboa e casado com Urbana Rodrigues Velha, natural de São Francisco do Sul.

Dona Urbana era bisneta de Manoel Lourenço de Andrade, fundador e primeiro capitão mor da Vila de Nossa Senhora da Graça do Rio de São Francisco (atual São Francisco do Sul).

Ainda hoje existem muitos descendentes de Manoel Manso de Avelar através de suas filhas Isabel Rodrigues de Mira, casada com Balthazar Soares Lousada e Margarida de Siqueira, casada com Sebastião Fernandes Camacho. A filha Clara Manso de Avelar, embora casada com Francisco Antônio Branco, não deixou descendentes.


Manoel Manso de Avelar não quis repetir o fim trágico de Francisco Dias Velho, fundador de Desterro morto por piratas. Relacionava-se muito bem com os navios estrangeiros que aportavam na Ilha. O navegante Amédée François Frézier que passou pela Ilha em 1712 relatou que foi bem recebido por Manoel Manso de Avelar, e que após a visita dele ao navio, os habitantes não paravam de chegar em canoas com carregamentos de galinha, 
fumo e frutos. 

Tradição, aliás, que permaneceu entre os moradores de Sambaqui até o fechamento do porto, a prática do escambo, que os moradores chamavam de “negociar ao bordo”. Quando os navios ancoravam entre as Ilhas de Anhatomirim e Ratones muitos moradores saíam com suas canoas carregadas de víveres, frutos, pássaros e renda de bilro ue eram trocados por fazenda, sal ou querosene. Muitas vezes, os que iam negociar a bordo, eram surpreendidos pelo vento sul e precisavam ficar arribados no Forte de Santo Antônio da Ilha de Ratones até a tempestade passar, o que leva geralmente três dias.

O lugar foi florescendo e a 27 de abril de 1750, por provisão episcopal, foi nomeado vigário da freguesia de Nossa Senhora das Necessidades da Praia Comprida, o Padre Domingos Pereira Teles, natural da Ilha do Pico, nos Açores. Antes da freguesia de Nossa Senhora das Necessidades só havia em Santa Catarina a freguesia de Nossa Senhora das Graças do Rio São Francisco, Santo Antônio dos Anjos da Laguna e Nossa Senhora do Desterro. O adensamento populacional se deu com a chegada dos casais açorianos a partir de 1748.

Trabalho de : SÉRGIO LUIZ FERREIRA

“Nós não somos de origem”:

Populares de ascendência açoriana e africana numa freguesia do Sul do Brasil

(1780-1960)