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terça-feira, 20 de novembro de 2018

MARTINHO BUGREIRO

Muitas histórias são narradas e recontadas pelo povo de Taquaras,SC,Brasil. Famosa entre elas é a de Sophia, a menina bugre sobrevivente de uma chacina. A índia, que foi adotada por uma família de imigrantes, viveu entre os brancos, foi “domesticada” e está sepultada no cemitério luterano da cidade.


Bando de Martinho Bugreiro

Quantas batalhas e histórias sangrantes viram aqueles olhos de outrora? O que há de se desmistificar e de se revelar? Que mistérios e traumas essas chacinas têm? Sempre houve resistência e silêncio ao se falar dessa parte obscura da nossa História.


O personagem mais cruel, herói dalguns e anti-herói de outros, foi Martinho Marcelino de Jesus – o MARTINHO BUGREIRO – que aos 18 anos começou a matar índio. Os motivos que o levaram à prática são caminhos que se bifurcam. Pode ser pelo dever de ofício, já que era inspetor de quarteirão (vigia de ataques indígenas) e os índios eram considerados foras-da-lei. Mas há histórias lendárias em que tudo teria começado por vingança: quando criança, o menino Martinho teria sido raptado pelos bugres e vivido entre eles por alguns anos. Daí nasceu sua sanha e os conhecimentos que lhe seriam tão úteis no seu futuro ofício. Ironicamente o que há de certo que sua mãe teria sido índia.


                                         Bando de Martinho Bugreiro




Batalhas e cenas tristes – as artimanhas dos massacres

O ataque aos índios pelo bando de Martinho seguia sempre um mesmo ritual. Perseguia-se o grupo a que se desejava exterminar, depois de encontrá-lo, os bugreiros ficavam acantonados durante horas, sem conversar ou fumar, esperando o momento exato para surpreender os índios em um ataque fulminante. Geralmente atacavam quando o dia estava para nascer, enquanto os indígenas ainda se encontravam entregues ao seu sono mais pesado. Primeiro cortavam as cordas dos arcos, depois iniciavam a matança. Acordados a tiros e golpe de facão, os índios não tinham qualquer chance de defesa: degola, evisceramento, cortes transversais no peito, pontaços no coração, pois a carne é macia e a lâmina cega. Cortavam as orelhas dos mortos – pois a recompensa era paga por cada par delas.

O trabalho só terminava depois que derrubassem os ranchos, amontoavam e ateavam fogo em tudo (esta parte das histórias traz à tona a verdadeira origem do nome de Rancho Queimado). Para que queimassem melhor, a sola grossa dos pés dos índios era aberta a facão. Os despojos – arcos, flechas, artesanatos – eram divididos entre os homens, que depois vendiam. Muitos desses artefatos, por muito tempo foram venerados como troféus – verdadeiros monumentos de barbáries.


A índia que sobreviveu ao maior massacre
Numa das maiores batalhas, morreram mais de duzentos índios e segundo historiadores se passou pela região de Rancho Queimado. Foram poupadas apenas duas crianças, uma menina e o seu irmão. Martinho Bugreiro os trouxe à cidade e uma família de Taquaras adotou os bugrezinhos. Do menino, sabe-se que conseguiu fugir e embrenhou-se na mata de novo. A menina recebeu o nome de Sophia, cresceu na sua nova família, foi batizada e está enterrada no cemitério luterano da cidade.


Infelizmente pouco da verdade se sabe, o lado poético e romantizado – do imigrante heroico, piedoso é a que prevalece. A verdade sempre foi negada ou omitida, talvez por medo, ou trauma; talvez por vergonha. Sabemos apenas que Sophia cresceu tímida, introspectiva e pouco falou durante toda a sua existência. Quisera eu poder ter olhado em seus olhos e conseguir enxergar, sentir, o sangue que eles quando pequenos presenciaram naqueles massacres inglórios de outrora. Martinho, sumiu. Ou assim quisera que fizessem. Casou e viveu seus últimos anos no município de Vidal Ramos (SC). É isso!



https://www.portaldorancho.com.br/portal/martinho-bugreiro-eu-nao-matei-100-matei-1-000?fbclid=IwAR0xotGQgexvu2PLm00W6Ke5ldThaFkKYgXMUMcrqMazo86eVizxhb6bCdU

sábado, 17 de novembro de 2018

História do tropeirismo na SC 281 (Antiga 407)




História do tropeirismo na SC 281 em Saõ José, Santa Catarina inicia-se com a  abertura desse caminho em 11 de janeiro de 1787, quando, comissionado pelo governador José Pereira Pinto, que para isso recebera ordem do vice-rei, D. Luís de Vasconcelos e Souza, o alferes Antônio José da Costa partiu de São José rumo ao oeste, pela floresta impérvia, juntamente com 12 homens armados, (dentre eles o Cap. Antônio Marques Arzão e Velozo autores do petroglifo em São Pedro de Alcantara), 
 12 escravos e 7 bestas cargueiras, com a intenção de alcançar a vila de Lages, onde efetivamente chegaram a 15 de agosto de1787, levando portanto 217 dias para concluir a empreitada. 
Pela chamada “estrada velha” ou “caminho antigo”, a Estrada de Lages seguia pelas margens do Rio Maruim, passando por Sertão do Imaruim, Colonia Sant`Anna,São Pedro de Alcântara e Angelina, de onde partia para o Alto Garcia, até Taquaras, de onde seguia para a Serra do Trombudo e Boa Vista até chegar ao rio Canoas, em direção a Lages. 
Joaquim Xavier Neves Filho reconstruiu a estrada em 1842, em vista da colonização alemã que iniciou por este caminho em 1829. 


O segundo caminho, a “ estrada nova”, seguia pelas margens dos rios Cubatão e São Miguel, passando pela colônia de Teresópolis e Rancho Queimado, seguindo até Taquaras, de onde acompanhava o mesmo percurso da estrada velha. Em ambas as estradas não havia um comércio dinâmico que justificasse grandes investimentos na estrada e somente a partir de 1888, sob supervisão do engenheiro Hercílio Pedro da Luz (futuro governador), é que as frentes de trabalho iniciaram as obras. Embora não se saiba ao certo a data em que as obras foram concluídas, na década de 1910 já era possível fazer o percurso com automóveis e caminhões. 




Ao longo da história que marcou o “Caminho dos Tropeiros”, algumas colônias foram fundadas às margens da Estrada de Lages, a exemplo da colônia São Pedro de Alcântara, da colônia de Santa Izabel, da Colônia Militar de Santa Tereza (atual município de Alfredo Wagner) e da Colônia Nacional de Angelina, fundada em 1859. A última colônia instalada às margens da estrada foi Teresópolis, em 1860. Nessas colônias o comércio era estabelecido principalmente com os tropeiros que passavam pela estrada.