O povoamento do sertao de sao jose entra no processo que culminou na fundação
da Colônia São Pedro de Alcântara, em 1828/29,
toda a Província de Santa Catarina constituía-se
de uma cidade: Desterro - a capital; três vilas: Laguna,
Lages e São Francisco.(6) Sendo sua população
predominantemente de origem lusitana.
À
mesma época, a única via de comunicação
ligando a freguesia de São José, localizado
no continente fronteiro à Ilha do Desterro, e, portanto,
também a capital da Província de Santa Catarina,
com a vila de Lages, no planalto serrano central, era a modesta
estrada de cargueiros que existia desde o final do século
XVIII. A abertura desse caminho principiara em 11 de janeiro
de 1787, quando, comissionado pelo governador José
Pereira Pinto, que para isso recebera ordem do vice-rei, D.
Luís de Vasconcelos e Souza, o alferes Antônio
José da Costa partiu de São José rumo
ao oeste, pela floresta impérvia, juntamente com 12
homens armados, 12 escravos e 7 bestas cargueiras, com a intenção
de alcançar a vila de Lages, onde efetivamente chegaram
a 15 de agosto do mesmo ano. O referido caminho assim aberto
seguia inicialmente pela margem esquerda do rio Maruí
(hoje também chamado de Maruim) e, depois, pela mata
virgem, até o planalto serrano.(7)

O
Governador da Capitania de Santa Catarina, Coronel Manoel
Soares Coimbra, movido pela sensatez, elaborou, estrategicamente,
um plano defensivo para a Ilha de Santa Catarina, planejando
a instalação de dois núcleos coloniais
às margens do Caminho-de-Tropas para Lages. Os planejados
núcleos coloniais seriam constituídos por soldados
casados e por lavradores, tendo em vista fins militares. Concebia-se
que os militares, constituídos em colônia, além
de afugentar os gentios, dedicar-se-iam às tarefas
agrícolas e bélicas, constituindo-se em potenciais
mecanismos de defesa para a Capitania em caso de emergência
ante a fúria dos inimigos, principalmente os espanhóis!
Alguns anos após, motivado por desentendimentos administrativos,
o Governador Manoel Soares Coimbra foi levado preso a Portugal,
inviabilizando a implantação dos núcleos
coloniais.
O
Tenente-Coronel João Alberto Miranda Ribeiro, sucessor
de Coimbra no executivo provincial, revigorou o plano e reivindicou,
veementemente, junto ao Vice-Rei, a sua exeqüibilidade,
solicitando, inclusive, a alocação de recursos
financeiros no orçamento da Província para viabilizá-lo.
O Governador insistiu junto ao Governo constituído
do Rio de Janeiro sobre a importância estratégica
das fundações dos núcleos coloniais,
mas o Conde de Rezende, Dom José Luiz de Castro, não
deu maior importância e frustrou o projeto. Com a morte
prematura do Tenente-Coronel Ribeiro, em 19 de janeiro de
1800, no Desterro, os planos de instalação dos
núcleos coloniais e da implantação da
ligação rodoviária litoral-planalto,
entraram em prolongada hibernação durante 28
anos. Em 1816, Paulo José Miguel de Brito, funcionário
do alto escalão do governo português, escreve
sua memória política sobre a capitania de Santa
Catarina onde faz constar uma planta com o traçado
da estrada para Lages e nela a localização de
colônias, recomendando fossem de açorianos. Mas
a estrada, bem como o projeto das citadas colônias,
não foram imediatamente executadas.
Para
reforçar a colonização e viabilizar a
ocupação de vazios demográficos, em setembro
de 1828, Monsenhor Pedro Machado de Miranda Malheiros, Imperial
Inspetor da Colonização Estrangeira, teve autorização
para receber no porto do Rio de Janeiro o navio alemão
"Johanna Jakobs", que trazia, da Europa, centenas
de imigrantes para o Brasil.(8)
Eles
são convenientemente desembarcados e alojados na Armação
de São Domingos, no Rio de Janeiro, até o final
do mês subseqüente. Eram 523 imigrantes originários,
em sua maioria, da região de Eifel, localizada no sudoeste
da Alemanha, ao norte do Rio Mosela(margem esquerda).(9) Na
capital do Império foram acrescentados ao grupo de
imigrantes 93 homens liberados da chamada "Legião
Alemã",(10) o corpo da tropa de mercenários
alemães no Exército Imperial Brasileiro que
havia sido dissolvido naquela cidade, assim como 19 ex-integrantes
do 27º Batalhão de Caçadores de Santa Catarina,
igualmente dissolvido. Eram 146 famílias.(11) Totaliza-se,
assim, 635 pessoas. Do Rio de Janeiro foram despachados em
28 de outubro de 1828, pelo Monsenhor Malheiros, a bordo dos
veleiros "Luiza" (um brigue) e "Marquês
de Viana" (um bergantim), com destino a Desterro (hoje
Florianópolis), sul do Brasil, onde aportaram, respectivamente,
em 07 e 12 de novembro de 1828. O brigue "Luiza"
transportou 276 pessoas e o bergantim "Marquês
de Viana", 359 pessoas.(12)
Após
a chegada ao Desterro, os que foram transportados pelo bergantim
"Marquês de Viana" ficaram alojados nos quartéis
da capital catarinense (campo de manejo), juntos aos Batalhões
8º, 18º, 27º e 4º de artilharia, enquanto
os que vieram no brigue "Luiza", por haverem adoecido
durante a viagem, foram "hospedados", involuntariamente,
"livre de comunicação", e completamente
isolados na Armação da Lagoinha -- antigo estabelecimento
de pesca de baleias fundado na costa oriental da Ilha de Santa
Catarina. Lá, também, estava aquartelado o 14º
Batalhão do Exército. Neste estabelecimento
os imigrantes foram amparados, no que tange à assistência
médica, por conta do governo provincial. Completamente
isolados e em plena ociosidade, requereram, naquela localidade,
terras para cultivar e de cuja solicitação não
obtiveram resposta.
Assim
ficaram os imigrantes, tanto os transportados pelo "Luiza"
quanto os pelo "Marquês de Viana", à
espera, impacientes e em parte desanimados diante da morosidade
dos poderes constituídos referente aos encaminhamentos
elementares visando a sua transferência para a mata
virgem.

--
Essa
morosidade tinha motivo: as terras destinadas a recebê-los
ainda não haviam sido demarcadas e, portanto, não
havia condições humanas para "enfrentar"
a floresta. Assim esgotaram-se, nos quartéis, os últimos
50 dias de 1828. Lá passaram o natal e o ano novo,
rolando aqui, empurrados dali, sem nenhuma privacidade, dividindo
espaço com os soldados da campanha - nenhum cronista
registrou como viveram, suas espectativas e esperanças,
como reivindicaram seus direitos, como sobreviveram e como
ocuparam-se diariamente durante aqueles meses mais longos
de suas vidas. Irritados e impacientes diante da insegurança
provocada pela peculiaridade da situação, homens
habituados ao trabalho e agora ociosos, curtiam desgosto próprio
e alheio nas dependências de alojamentos humilhantes.
O
governo provincial catarinense não pudera executar,
por conseguinte, antes da chegada dos imigrantes, quaisquer
medidas práticas, embora indispensáveis, à
instalação ao menos de um núcleo colonial,
à falta justamente de decisões administrativas
prévias da Corte e do envio dos respectivos recursos
financeiros pelo Tesouro Público. Enquanto isso, todo
o grupo de imigrantes permanecia alojado nos quartéis
do centro da cidade ou na Armação da Lagoinha,
em situação análoga ao caos psicológico
e material. No decorrer desse tempo muitas queixas foram apresentadas,
ora ao governo catarinense ora às autoridades ligadas
à colonização, na Corte, por causa da
situação difícil decorrente do alojamento
que a cada dia se agravava. Queixavam-se, outrossim, da iminente
perda das sementes, trazidas da Alemanha, destinadas às
primeiras culturas na nova colônia. Em mostra de impaciência
e irritação, um grupo de 26 imigrantes alojados
na Armação da Lagoinha, não obstante
a beleza paradisíaca da praia em cujas imediações
se encontravam, em petição datada de 25 de janeiro
de 1829, reiterava ao presidente Albuquerque Mello, da Província
de Santa Catarina, seu pedido no sentido de encaminhá-los
sem novas delongas para o núcleo colonial, como lhes
havia sido prometido ainda na Europa. Manifestando o desejo
de sair da imposta e exasperante ociosidade, ofereceram-se
àquele governante para realizar trabalhos, como, por
exemplo, a abertura de estradas. Veja parte do teor da petição:
"...
uma vez mais tomam a liberdade de suplicar à
V. Exa. que os fará transportar à colônia,
o mais cedo possível. E eles já apresentaram
à V. Exa. uma relação do quanto
eles têm sofrido, desde que saíram de sua
pátria, há quase um ano, e não
podem deixar de recear que o tempo que aqui tem de estarem
lhes será tristíssimo. A maior parte deles
trouxe sementes de proveitosas plantas, que querem experimentar
se aqui produz, mas com a dilatação do
tempo, se tornaram incapazes disso e, conseqüentemente,
perdem-se. Se há algum trabalho a fazer, como
caminhos etc. os colonos para isso se oferecem a V.
Exa. (...) E como desejam ocupação, e
por isso lhes ser muito agradável que V. Exa.
se digne ocupá-los, o mais breve possível,
no emprego acima suplicado".(13)
|
Entretanto,
em 25 de outubro de 1828, antes mesmo da chegada dos imigrantes
a Desterro, um Aviso Imperial determinava ao Presidente da
Província que os colonos transportados no bergantim
"Marquês de Viana" fossem estabelecidos, necessariamente,
entre Desterro e a vila de Lages no lugar que "mais comodidade
oferecer para uma povoação". Além
disso, o citado Aviso Imperial determinava, também,
a concessão da diária de 160 réis para
cada imigrante no decorrer de um ano, cujo pagamento deveria
ser efetuado pela Junta da Fazenda da Província de
Santa Catarina.
Não
obstante a inexplicável demora, os imigrantes do "Marquês
de Viana" ficaram amedrontados pela notícia de
que os indígenas freqüentavam o vale do Maruí,
nas imediações de onde seriam instalados; por
isso, muitos ficavam temerosos e se recusavam terminantemente
a sair da cidade. Este terror precipitado poderia fazer malograr
o futuro estabelecimento colonial se o Presidente da Província
não os animasse, usando como argumento a concessão
da diária de 160 réis a cada colono que se deslocasse
até o lugar determinado para a fundação
da colônia. Este incentivo foi bem sucedido e teve ótimos
resultados.(14)
Em
função do Aviso Imperial datado de 25 de outubro,
o Presidente da Província ordenou imediatamente ao
Major de Milícias reformado, Silvestre José
dos Passos, conceituado homem público e último
morador às margens da projetada estrada para Lages,
no vale do Maruí, para que fosse reconhecer o "lugar
que mais comodidade oferecer", sua salubridade e fertilidade
para a fundação de uma colônia.(15)
Concluído
o reconhecimento do sertão, em 7 de dezembro de 1828,
Passos apresentou à administração provincial
um relatório onde, apesar de admitir a falta de conhecimentos
para bem incumbir-se da missão, apresenta uma "tosca
configuração e descrição do projetado
estabelecimento" de uma povoação. Albuquerque
Mello, dois meses após, pela portaria de 09 de fevereiro
de 1829, nomeou Passos diretor da "Colônia dos
Alemães", com a incumbência de implantar
"a abertura da projetada estrada" para Lages e de
erguer os edifícios necessários para a recepção
dos imigrantes. Eram conseqüências das imperiais
determinações recebidas.
Decorridos
quase três meses após a chegada do bergantim
"Marquês de Viana" à Ilha de Santa
Catarina, em 11 de fevereiro de 1829 o primeiro grupo de imigrantes
alemães foi transportado para a freguesia de São
José, onde ficaram temporariamente alojados. Em 17
de fevereiro, eles ainda lá continuavam retidos. Motivo:
falta de ferramentas e de recursos financeiros para prosseguir
o trabalho. Além disso, uma grande enchente inundara
as várzeas do rio Maruí, tornando-a intransitável.
Mas, em 1º de março, sabe-se, por carta subscrita
pelo próprio diretor de colônia, que a leva inicial
de imigrantes, aproximadamente 60 pessoas, já se encontrava
alojada nas dependências de seu engenho localizado no
sertão de São José, no vale do Maruí.
Após terem feito derrubadas na mata, construíram
uma palhoça com a extensão de 50 palmos de comprimento
e implantaram parte da estrada ("até o ribeirão
do Planxão"). Naquela data, estavam, de acordo
com a carta do diretor, empenhados na edificação
de mais uma palhoça e alguns barracões para
a moradia provisória das famílias.(16)
As
ordens transmitidas pelo governo imperial a Albuquerque Mello
a respeito da localização dos imigrantes alemães
em solo catarinense mencionavam, invariavelmente, no início
e até meados de 1829, apenas os colonos transportados,
do Rio de Janeiro para Santa Catarina, no bergantim "Marquês
de Viana". Faltava, portanto, em inexplicada incúria,
instrução da Corte quanto aos colonos trazidos
no brigue "Luiza" e alojados, provisoriamente, na
Armação da Lagoinha. Tudo indica, porém,
que o presidente da província felizmente percebeu logo
a gravidade de tal deficiência e tratou de bem solucionar
o problema, não sem antes terem ocorrido perturbações
de ordem interna. Em evidente propósito de minorar
os sofrimentos dos imigrantes e a fim de atender, satisfatoriamente,
ao menos parte dos rogos e reclamações que lhe
estavam sendo apresentados desde os primeiros meses e ao longo
de 1829, foram encaminhados aos poucos, sob o silêncio
da Corte e responsabilidade pessoal do Presidente Albuquerque
Mello, para a "Colônia dos Alemães"
dirigida por Passos, os colonos abrigados na Armação
da Lagoinha.
Em
janeiro de 1830, ainda estavam aquartelados na Armação
da Lagoinha muitos ex-soldados do 27º Batalhão
destinados à futura colônia. Estavam desgostosos
e extremamente impacientes, resultado da ociosidade, do atraso
no pagamento da diária de 160 réis, bem como
de sua transferência para a colônia. Por isso,
exigiram, rudimentarmente, a solução imediata
dessas pendências. Os desgostosos deslocaram-se da Armação
da Lagoinha para o centro da cidade, onde atacaram a casa
do Presidente da Província, insultando-o atrozmente.
Para fazê-los calar, o Presidente, diante da falta de
recursos públicos, paliativamente solicitou a um negociante
que lhes adiantasse uma certa soma em dinheiro, sob a sua
garantia pessoal. Assim,
"Sossegaram
alguns dias os colonos, mas voltaram novamente às
representações e depois ao desacato
formal. Intervindo a força pública,
foram presos 15 dos turbulentos, mais em evidência,
e enviados processados, com competente devassa, para
a corte, pela charrua 'Jurujuba' em abril seguinte".(17)
|
Quem
consulta as poucas fontes históricas existentes sobre
esses episódios, não foge à impressão
de que o retardamento no envio dos colonos a seu destino prende-se
ao fato de não haverem providenciado, a tempo, a abertura
completa da estrada e a necessária demarcação
das terras destinadas a mais de cem famílias. Um dos
vigários de São José, e um dos poucos
historiadores sobre os primórdios da colônia
apresenta, em sua afamada memória histórica,
a "certidão da nascimento" de São
Pedro de Alcântara:
"O
inspetor da colônia, apenas recebeu as ordens
e instruções com que devia dar princípio
à sua comissão, marchou a explorar o terreno
para o futuro estabelecimento. Logo que chegou às
terras devolutas, depois de tê-las examinado minuciosamente,
escolheu o lugar que lhe pareceu mais azado para servir
de logradouro público ou arraial, e aí
demarcou um quadro, em cujo meio deixou uma pequena
praça bordada de duas ruas, que denominou, uma
de São Pedro de Alcântara e outra de Albuquerque.
Em seguida fez levantar vinte palhoças, para
nelas receber os colonos, até que estes fizessem
casa dentro das datas que lhes deviam ser demarcadas..."(18)
|
Na
mata virgem, os trabalhos elementares eram executados de uma
forma paulatina, mas progressiva. Em 10 de maio de 1829, Silvestre
José dos Passos, dando ciência do desenvolvimento
dos serviços a ele confiados, afirma já ter
construído 36 palhoças para a habitação
provisória dos imigrantes. Com relação
à estrada projetada, afirma que sua implantação
chega ao local denominado "Galão". Cita alguns
acidentes ocorridos com os imigrantes quando da derrubada
da mata:
"estes acontecimentos e outros de acidentais
moléstia é bastante motivo para lastimar o estado
destes colonos, em desamparo da medicina, igreja e cemitério".(19)
Diante
dos contratempos quando do alojamento nos quartéis
das 146 famílias que se destinaram a formar a nova
colônia, 14 se deixaram ficar na cidade e seus arrabaldes
e, por isso, só 132 datas foram demarcadas para igual
número de famílias. Cada data media de 50 a
100 braças de frente, segundo o número de pessoas
que continha cada família; todas, porém, com
750 de fundos, cujas frentes davam à estrada que conduz
à freguesia de Lages.(20) Essas terras que a princípio
seriam férteis, além de sáfaras e de
superfícies acanhadas, demostravam qualidade mediana
e, às vezes, até infrutífera.
DISTRIBUIÇÃO DE LOTES
DE TERRA (21)
N.
|
IMIGRANTES
|
E. CIVIL
|
FILHOS
|
EXTENSÃO
|
POSSE
|
LOCALIZAÇÃO
|
01
|
Karl Payeken e
Wilhelm Ruete
|
Solteiros
|
__
|
100 x 800
braças
|
09-07-1829
|
Lado norte da
Estrada
|
02
|
Nikolaus Deschamps e
Katharina Eich
|
Casado
|
03
|
65 x 800
braças
|
09-07-1829
|
Lado norte da
Estrada
|
03
|
Heinrich Bohnen e
Maria Ângela Brandt
|
Casado
|
06
|
75 x 800
braças
|
09-07-1829
|
Lado norte da
Estrada
|
04
|
Johann Hansen e
Katharina Münter
|
Casado
|
__
|
70 x 800
braças
|
10-07-1829
|
Lado norte da
Estrada
|
05
|
Johann Klocker e
Anna M. Deschamps
|
Casado
|
__
|
34 x 800
braças
|
10-07-1829
|
Lado norte da
Estrada
|
06
|
Heinrich Conrad e
Ana Barbara Welter
|
Casado
|
06
|
55 x 800
braças
|
10-07-1829
|
Lado norte da
Estrada
|
07
|
Franz Caspar Ostermann e
----------------------
|
Viúvo
|
__
|
30 x 800
braças
|
13-07-1829
|
Lado norte da
Estrada
|
08
|
Johann Alflen e
Katharina Mertens
|
Casado
|
01
|
42 x 800
braças
|
22-07-1829
|
Lado norte da
Estrada
|
09
|
Matthias Palm e
Maria Philippi
|
Casado
|
05
|
100 x 800
braças
|
22-07-1829
|
Lado norte da
Estrada
|
10
|
Georg Wagner e
Maria K. von Kurz
|
Casado
|
06
|
100 x 800
braças
|
22-07-1829
|
Lado norte da
Estrada
|
11
|
Christoph Schmitz e
Cristina Gesser
|
Casado
|
02
|
80 x 800
braças
|
23-07-1829
|
Lado norte da
Estrada
|
12
|
Johann Gesser (22)
|
Viúvo
|
05
|
60 x 800
braças
|
23-07-1829
|
Lado norte da
Estrada
|
13
|
Konrad Dör e
Maria Anna Rohrs
|
Casado
|
02 (23)
|
80 x 800
braças
|
23-07-1829
|
Lado norte da
Estrada
|
14
|
Johann J. Gödert e
Maria Anna Schwartz
|
Casado
|
05
|
80 x 800
braças
|
11-07-1829
|
Lado sul da
Estrada
|
15
|
Jakob Neckel e
Maria Gertrud Wolf
|
Casado
|
05
|
104 x 800
braças
|
11-07-1829
|
Lado sul da
Estrada
|
16
|
Matthias Meurer e
Anna M. Martendahl
|
Casado
|
__
|
60 x 800
braças
|
14-07-1829
|
Lado sul da
Estrada
|
17
|
Johann Martendahl e
Katharina Normann
|
Casado
|
08
|
108 x 800
braças
|
11-07-1829
|
Lado sul da
Estrada
|
18
|
Matthias Rinkus e
Anna Maria Hesser
|
Casado
|
03
|
80 x 800
braças
|
15-07-1829
|
Lado sul da
Estrada
|
19
|
Peter Conradi e
Maria M. Thomas
|
Casado
|
02
|
77 x 800
braças
|
16-07-1829
|
Lado sul da
Estrada
|
20
|
Christoph Sabel e
Agnes Conradi
|
Casado
|
01
|
80 x 800
braças
|
17-07-1829
|
Lado sul da
Estrada
|
No
início da instalação da colônia,
um novo surto de insatisfação geral invadiu
os imigrantes: além de atraso no pagamento das diárias
a que faziam jus, havia agora condições imprevistas
e adversas de duro trabalho na mata: as terras, além
de íngremes e de pouca fertilidade, mostravam-se, em
grande parte, desfavoráveis às atividades rurais.
Já em fevereiro/março de 1829, portanto, durante
os trabalhos iniciais no local escolhido para o estabelecimento
da colônia, principiaram a ocorrer as primeiras deserções:
algumas famílias decidiram fixar residência em
Desterro e em São José, outras foram instalar-se,
a partir de 6 de maio de 1830, na região do Alto Biguaçu
(Louro),(24) lançando os alicerces da cidade de Antônio
Carlos. Naquela ocasião, solicitaram, também,
a concessão de terras mais adequadas às atividades
rurais no Patrimônio das Caldas do Cubatão(25)
(hoje Caldas da Imperatriz e Águas Mornas). Tal pedido,
porém, foi indeferido, sob a justificativa de que aquelas
terras não eram devolutas e, além disso, porque
estava fora do trajeto do projetado Caminho-de-Tropas para
Lages.
Viram
logo os colonos que toda a região onde estavam instalados
não era apenas acidentada, mas ainda muito pedregosa,
dificultando qualquer lavoura. A própria sede do arraial
de São Pedro de Alcântara, a futura freguesia,
apresentava-se apertada entre colinas, com pouca possibilidade
de tornar-se um centro maior. E os alemães recém-vindos
se perguntavam se não havia em toda a Província
de Santa Catarina terras mais próprias para o amaino
e o plantio. Havia muito mais e bem melhores. Entretanto,
ficara decidido por escalões superiores que o "caminho
de sertão" em direção aos campos
de Lages devia passar por ali. Era a razão de ser da
"Colônia dos Alemães" ali fundada.
Após
os colonos terem recebido suas terras, executada a derrubada
e iniciada a plantação, algumas fontes históricas
no levam a crer que, para infelicidade dos imigrantes, uma
parte destas ainda estava onerada com títulos de propriedade
mais antiga. Formaram-se contendas e processos que, afinal,
foram liquidados pela compra das mesmas terras pelos imigrantes.(26)
O cotidiano dos primeiros anos foi marcado pela insegurança
gerada por problemas fundiários e pelas deficiências
dos serviços públicos essenciais.
Ordens
do governo imperial a respeito do estabelecimento definitivo
dos imigrantes transportados pelo "Luiza" em solo
catarinense só viriam, aliás, através
do aviso de 14 de julho de 1829, quando alguns já haviam
sido instalados, por obra e graça do Presidente da
Província, na colônia: eram destinados a formar
uma segunda colônia teuta, separada da dos imigrantes
transportados no "Marquês de Viana", sobre
a estrada São José a Lages e que ficaria situada
meia légua mais para o interior, além de São
Pedro de Alcântara. Lá deveriam ser instalados,
"dando-lhes terras apropriadas e mandando-lhes fazer
acomodações". Essa segunda Colônia,
denominada de Santa Filomena, de acordo com sua concepção
estratégica no Caminho-de-Tropas, nunca foi implantada,(27)
mas evidencia a execução do antigo plano militar
de estabelecer duas povoações no caminho que
conduzia a Lages que serviriam de base estratégica
para fustigar possíveis inimigos invasores da Ilha
de Santa Catarina. Assim temos a evidência de que a
idéia de serem duas colônias foi mantida em 1829:
meia légua acima do primeiro núcleo colonial
seria estabelecido um outro, com os colonos vindos da Lagoinha.
Instalados
nos lotes coloniais os imigrantes construíram, então,
sua primeira obra comunitária. Nascia da contribuição
dos colonos a primeira igrejinha no topo da serra de Santa
Filomena, junto às nascentes do Rio do Louro, para
cuja padroeira escolheram a Santa Bárbara. Supomos
que era tosca, de madeira bruta, construída com folhas
de palmeiras, da mesma forma como seus ranchos de palha, cujas
paredes e cobertura foram confeccionadas com as folhas trançadas
da palmeira guaricana e em cujas dependências o vento
sul soprava pelas gretas nos domingos frios de inverno rigoroso.
Mas eles sentiam necessidade de se robustecerem na esperança
e na fé e de continuarem unidos diante das adversidades
naturais da incipiente vida na floresta virgem.(28) Contíguo
à pequena capela foram enterrados os pioneiros imigrantes,
que não resistindo às adversidades da "vida
nova", cederam a sua existência. A cada domingo,
ou após o culto divino, visitavam os túmulos
dos entes queridos. Ali, além das lágrimas,
semeavam a esperança de uma vida melhor. Emergiu então,
em plena floresta, um minúsculo aglomerado habitacional,
a base da incipiente fundação colonial, constituindo-se
no "centro" devocial e social dos imigrantes.
Instalada
a Colônia dos alemães, era preciso denominá-la.
Disso encarregou-se o Presidente da Província Albuquerque
Mello. Em mensagem datada de 11 de julho de 1829, comunicou
ao imperial ministro José Clemente Pereira que dera
à "Colônia dos Alemães" a denominação
oficial de São Pedro de Alcântara, "em atenção
à família imperial reinante".(29)
Das
muitas promessas que já na Alemanha haviam sido feitas
aos imigrantes por meio de agentes do governo brasileiro,(30)
somente algumas foram cumpridas: a das terras gratuitas e
de madeiras quantas precisassem cortar. Deixaram, entretanto,
de receber as ferramentas, a diária, as sementes. Miguel
de Souza Mello e Alvim, quando Presidente da Província,
fez várias representações escritas à
Corte (Rio de Janeiro), taxando de "indecoroso"
o procedimento do Governo Imperial em relação
aos colonos de São Pedro de Alcântara, "cujos
habitantes (dizia) são bons, laboriosos, mas estão
sofrendo as maiores misérias, por motivos que eles
não têm culpa".(31)
O
primeiro diretor da colônia, Silvestre José dos
Passos, fazendeiro aposentado , que, por sua idade avançada,
já havia pedido repetidas vezes exoneração
do cargo, "por não concorrerem em mim (argumentava)
os requisitos que exige um tal serviço". Passos
exerceu seu cargo somente até o momento em que todos
os imigrantes tinham tomado posse de seus terrenos. Eleito
e nomeado Juiz de Paz da freguesia de São José,
onde assumiu seu cargo em 25 de janeiro de 1829, deixou a
administração da colônia a 06 de fevereiro
de 1830. Depois, os imigrantes elegeram Nikolaus Henkenn (Heinzen?)
como líder e, após a morte deste, seu filho
Peter Henkenn (Heinzen?).(32) Sucedeu a Passos, na função,
o súdito alemão João Henrique Soechting,
que havia sido tenente do 27º Batalhão de Caçadores
e participara, até o ano anterior, na campanha militar
do Império contra as províncias unidas do rio
da Prata.
No
mês precedente a essa troca de diretores, e apenas doze
dias após sua posse no governo provincial, o presidente
Mello e Alvim fez, a 26 de janeiro de 1830, acompanhado de
várias autoridades,(33) uma excursão a São
Pedro de Alcântara, com o propósito de inteirar-se
da situação dos colonos.
Dessa
viagem de inspeção ele depois deu notícia
(ofício n. 14, de 15 de fevereiro de 1830) ao Marquês
de Caravelas, novo Ministro do Império, no qual manifestava
sua admiração pelo trabalho imenso que, "assim
como por encanto, no curto prazo de seis meses", "aquela
laboriosa e infatigável gente" havia feito em
terreno áspero e montanhoso, convertendo o sertão
ínvio "em terreno cultivado coberto de seara de
milho, trigo, legumes e todas as plantas do país, além
de outras cujas sementes trouxeram da Europa". Justamente
por isso, no mesmo relatório, o presidente da província
cobrava do governo imperial, reiterando os pedidos de seu
antecessor, o reinício do suprimento regular a Santa
Catarina, pelo Tesouro Público, de recursos financeiros
destinados ao pagamento das diárias de subsistência
dos colonos, como meio indispensável de garantir a
continuidade do elogiado trabalho realizado em São
Pedro de Alcântara.(34)
Na
visita que fez Mello e Alvim a São Pedro de Alcântara
resultou que, na ocasião, in loco, determinasse ao
agrimensor e sua comissão(35) a abertura de um caminho
rumo do norte, em direção ao Rio Biguaçu,
para que lá fizessem demarcar um lugar para a instalação
da freguesia; a futura sede do núcleo colonial. Seguindo
as orientações de Mello e Alvim, concluiu a
comissão da impossibilidade da abertura do solicitado
caminho em função do terreno excessivamente
montanhoso. Mas, em 14 de fevereiro de 1830, o diretor João
Henrique Soechting, em carta ao Presidente da Província,
anuncia que a referida comissão descobriu, rumo do
sul, a apenas 300 braças da estrada velha, uma planície
que teria mais de 200 braças de extensão, além
de bastante água. O Presidente Mello e Alvim responde
à Soechting argumentando que não poderia definir
o lugar da freguesia sem antes empreender nova visita à
colônia. Assim, a definição da localização
da freguesia foi protelada.
Em
relatório sobre sua visita à colônia,
o Presidente Mello e Alvim reclama da distribuição
dos lotes de terras aos imigrantes, cujo ato teria sido feito
sem critério e, portanto, segundo ele, o mais irregular
e injusto possível. Continua seu relatório afirmando
que a administração provincial, após
a suspensão do pagamento das diárias para subsistência
dos imigrantes, faz todo o possível,
"para
reduzir esta desgraçada gente, no meio de uma
terra inóspita, para onde vieram atraídas
pelas mais brilhantes promessas, à dura alternativa,
ou de desertarem, abandonando suas mulheres e filhos
à desesperação e à miséria,
ou de sucumbirem todos vítimas da mesma miséria,
privações e fome. (...) Contudo poucos
desanimaram. Eles se lançam avidamente ao trabalho:
os rigores do tempo, a rudeza selvática do país,
nada pode empecê-los: homens, mulheres e crianças,
tudo trabalha com maior acerto, e a mais acizada distribuição
de serviços; enquanto os mais robustos derrubam,
queimam matas e plantam a terra, os outros, e as crianças
cuidam na construção de suas casas, tecem
os tetos de palha, para as cobrir, tratam de toda a
economia doméstica, e assim, como por encanto,
no curto prazo de seis meses, aparece um espaço
de três léguas de comprimento sobre 200
braças de largura, convertido de sertão
bárbaro e intransitável, em terreno cultivado
e coberto de seara de milho, trigo e legumes e todas
as plantas do país, e de outras cujas sementes
trouxeram da Europa, assim como povoados de pequenas
e cômodas habitações edificadas,
com uma facilidade verdadeiramente pasmosa".(36)
|
Insistia
o Presidente Mello e Alvim, por fim, pela solução
das súplicas dirigidas ao governo imperial pelo seu
antecessor, por três vezes - em 6 de agosto, 9 de setembro
e 17 de novembro de 1829 - porque dizia não mais ser
possível ministrar aos colonos os socorros que lhe
foram prometidos e assim seria melhor desenganá-los
de uma vez e renunciar definitivamente ao projeto de fundação
de alguma nova colônia.(37) Era o governo assumindo
suas limitações e desobrigando-se das promessas
empenhadas na promoção da colonização.
Com
a instalação de novas famílias, a colônia
faz sua população aumentar. Em setembro de 1830,
o diretor Soechting realiza levantamento censitário
e constata: 154 famílias, sendo 136 na estrada para
Lages e 18 no Alto Biguaçu (Louro). Outro recenseamento,
efetuado em dezembro do mesmo ano, indicava ligeiro aumento
da população: 168 famílias, com 652 pessoas,
377 homens e 275 mulheres, aí incluídos adultos
e crianças.(38) Quando estavam os colonos colhendo
de seus primeiros roçados e de seus quintais à
beira-rio, frutos do suor e de lágrimas incontidas,
caiu sobre São Pedro de Alcântara, a 15 de abril
de 1830, um devastador temporal com granizo, arruinando a
maioria das lavouras. A 13 de novembro do mesmo ano, outra
tempestade bem mais ruinosa, infligiu desânimo.(39)
Terceira devastação veio a 15 de dezembro do
mesmo ano: a lei que proclamava "abolida em todas as
Províncias de Império a despesa com a Colonização
Estrangeira". Este ato administrativo equiparou-se, indiretamente,
a um virtual decreto de emancipação da colônia.
Era um inesperado presente de Natal que a Corte reservara
aos colonizadores e que, por conseguinte, retraía o
governo imperial de qualquer cooperação direta,
abandonando sua iniciativa de promover e dirigir a imigração.
Bem podemos imaginar a insegurança que tomava feições
de desespero reinante entre a população. Enquanto
o governo ensaiava, aos poucos, um forçado esquecimento
da colônia e de seus habitantes, paradoxalmente, o núcleo
colonial chamava a atenção de viajantes estrangeiros...
Em
outubro de 1835, um conde dinamarquês, Frederik Christiam
Raben, visitando São Pedro de Alcântara, descreve
aspectos botânicos, entre os quais extraímos
os seguintes registros históricos que anotou em seu
diário:
"Uma
doença denominada mal-de-terra é comum
aqui (São Pedro de Alcântara). As pessoas
ficam pálidas, perdem energia, e se vai longo
tempo de recuperação. Diz-se provir de
má dieta. Muitos são pobres. O povo em
geral só come carne-seca com farinha de mandioca
e milho torrado em lugar de café. A saudade parece
torturar a maioria dos colonos, que desejam voltar para
a sua pátria, mas a maior parte não pode
por falta de recursos. (...) Foram-lhe feitas promessas
que terminaram mal cumpridas. Não há escolas.
Se as crianças necessitam aprender algo, os próprios
pais precisam ensiná-las. (...) Um fulano separou
madeira para construir uma igreja, mas a obra parou.
Na Colônia há duas ou três capelas,
onde o povo se reúne para orar e cantar".(40)
|
Diante
de parte das promessas não cumpridas, de compromissos
desonrados, de terras íngremes e de baixa fertilidade,
os colonos de São Pedro de Alcântara, desiludidos
com a "terra prometida", em 1836 começaram
a migrar. Reiteraram a solicitação de terras
nas imediações de Caldas do Cubatão e
lá fundam Vargem Grande(41) migram também para
o vale do Itajaí Açu, onde lançam os
fundamentos das povoações de Belchior e Pocinho
- hoje município de Gaspar - e também de Brusque.(42)
Posteriormente, toda Santa Catarina, e por extensão
o Brasil, foi recebendo sementeira do braço forte dos
colonos desse núcleo pioneiro.
A
13 de abril de 1844, o presidente da província de Santa
Catarina, Antero José Ferreira de Brito, após
a aprovação da Assembléia Legislativa,
sancionou a lei n. 194, que erigia em freguesia, e à
condição de Paróquia em 23 de abril,
com os limites que indicava, o arraial da Colônia São
Pedro de Alcântara, com patrono homônimo,(43)
desmembrando-o da paróquia da Vila de São José.
Pouco depois, a lei n. 250, de 31 de março de 1848,
alterava os limites orientais da nova freguesia. Confirmada
pelo Bispo do Rio de Janeiro, em visita pastoral à
Província, em 1845, o citado prelado "encarregou-nos
o regime da nova paróquia", escreve o Pe. Joaquim
Gomes de Oliveira e Paiva, que paroquiava em São José.
Efetivamente a nova paróquia começou a funcionar
alguns anos mais tarde, ficando ao encargo do Monsenhor Manoel
Joaquim da Paixão, que também acumulava a função
de vigário de São José.
"Nesse
tempo os colonos, querendo também partilhar da
munificência de S. M. o Imperador, dirigiram-lhe
um requerimento, pedindo-lhe uma esmola para a reedificação
da nova matriz; o digno monarca, pronto sempre a fazer
generosos donativos em prol dos templos e estabelecimentos
pios, os acolheu favoravelmente, indagou com interesse
a respeito do estado da colônia, e mandou entregar
ao presidente da Província certa quantia para
ser aplicada ao conserto da matriz de São Pedro
de Alcântara. Os alemães ficaram encantados
da afabilidade com que o Imperador os recebeu (tratava-se
já de D. Pedro II), e não cessaram de
falar do augusto filho da arquiduquesa Leopoldina -
assim se exprimiam em referência à virtuosa
primeira Imperatriz do Brasil de saudosa recordação".(44)
|
Encarregado
pastoralmente da móvel paróquia, o Pe. Paiva,
em 26 de maio de 1845, realizava sua primeira visita a São
Pedro de Alcântara para ali oficiar atos religiosos.
Dessa visita primeira, Pe. Paiva anotou detalhes impressionantes
sobre o desenvolvimento da colônia e costumes de seus
habitantes. Assim descreve:
"Ao
entrar no arraial da colônia não se oferece
outra vista além de uma larga rua, que conterá
vinte edifícios, e cujos intervalos serve de
praça; porquanto os alemães, apartando-se
do risco que lhes dera o inspetor Passos, julgaram mais
conveniente estender-se pela margem do Maruí.
Contudo, ainda que pequeno, o arraial apresenta um agradável
e interessante aspecto, máxime nos dias em que
os colonos aí concorrem para a celebração
dos ofícios divinos(...). Durante o sacrifício
da missa... não pude deixar de sensibilizar-me
a ver até os meninos de seis anos cantar de cor
muitos dos salmos, pronunciando admiravelmente as palavras
latinas. A um dos lados da igreja está o cemitério,
onde, além de uma grande cruz plantada... observei
outras muitas, porém pequenas, fincada sobre
cada sepultura, e todas enfeitadas de flores e festões
de papel picado, muito principalmente as que assinalavam
os jazigos de inocentes. Enquanto dura a visita paroquial...
os colonos, católicos romanos, à exceção
de três ou quatro famílias luteranas, não
perdem um só dia de missa... para o que desprezam
a longitude de três ou quatro léguas, muitas
vezes por caminhos intransitáveis".(45)
|
A
colônia São Pedro de Alcântara florescia
às margens da estrada que a atravessa em direção
à vila de Lages. Mas, poucos anos mais tarde, o governo
veio a construir, na mesma direção de Lages,
uma estrada paralela até o alto das Taquaras, na Serra
da Boa Vista, de trânsito mais fácil e talvez
menos íngreme,(46) que subia o Vale do Cubatão,
via Santo Amaro da Imperatriz e Águas Mornas. A transferência
de parte do trajeto da estrada via vale do Cubatão,
em detrimento do vale do Maruí, "isolou"
economicamente São Pedro de Alcântara, em função
da privação do comércio fomentado pelos
transeuntes, principalmente os tropeiros. Foi a estagnação
econômica de São Pedro de Alcântara.
Alguns
anos mais tarde a população da colônia,
em 1848, contava com 145 famílias num total de número
de 700 habitantes, não contando neste número
muitas famílias que mudaram o domicílio para
a margem dos rios Biguaçu, Tijucas e Itajaí,
e muitos que residiam na vila de São José e
na capital. Se os colonos tivessem todos permanecidos no ponto
onde foram instalados, de certo poder-se-ia contar na colônia
São Pedro de Alcântara, em 1848, perto de 3.000
pessoas, escreve o Pe. Paiva.(47) Seis anos mais tarde, em
1854, contava a Colônia com 1.500 habitantes, sendo
trinta e tantos escravos, trezentos estrangeiros e mil e tantos
brasileiros, entre descendentes de colonos e naturais do país.(48)
Tirado do Blog deToni
Vidal JOCHEM e complementado Por Cacilda de limas Francener