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sábado, 27 de agosto de 2016

Lino Justino de Lima(AVO)-29/12/1892 - 06/03/1945-52 anos

Nascido em quinta-feira, 29 de dezembro de 1892, em guarda do cubatao, Palhoça (Brasil)
· Alice Lima da Luz-22/07/????

· Em terça-feira, 27 de julho de 1926, nasceJoao. Ele tinha 33 anos.
· Em sexta-feira, 18 de maio de 1928, nasceu 
José. Ele tinha 35 anos.
· Em sexta-feira, 6 de abril de 1934, nasceu 
Osni Lino. Ele tinha 41 anos.
· Em terça-feira, 20 de julho de 1937, nasceu Adelina. Ele tinha 44 anos.
· Em quarta-feira, 2 de junho de 1943, ficou viúvo de Alice Thomazia Correia de mello. El
e tinha 50 anos.
· Falecido em terça-feira, 6 de março de 1945, em guarda do cubatão,Palhoça (Brasil). Ele tinha 52 anos.







Mas como surgiram os sobrenomes?


Conhecer a origem dos sobrenomes poderá indicar de onde certa família descende, no que trabalhavam ou conhecer algumas características dos ancestrais dessa família.Os primeiros a adquirirem sobrenomes foram os chineses. Algumas lendas sugerem que o Império Fushi decretou o uso de sobrenomes, ou nomes de famílias, por volta de 2.852 a.C. Os chineses tinham normalmente 3 nomes: o sobrenome, que vinha primeiro e era uma das 438 palavras do sagrado poema chinês "Po-Chia-Hsing". O nome de família vinha em seguida, tirado de um poema de 30 personagens adotados por cada família. O nome próprio vinha então por último.

Nos tempos antigos os romanos tinham apenas um nome. No entanto mais tarde passaram a usar três nomes. O nome próprio ficava em primeiro e se chamava "praenomen". Depois vinha o "nomem", que designava o clã. O último nome designava a família e é conhecido como "cognomen". Alguns romanos acrescentavam um quarto nome, o "agonomen", para comemorar atos ilustres ou eventos memoráveis. Quando o Império Romano começou a decair, os nomes de família se confundiram e parece que os nomes sozinhos se tornaram costume mais uma vez.

Durante a Idade Média, as pessoas eram conhecidas somente pelo nome próprio. Mas a necessidade de adicionar outro nome para distinguir as pessoas de mesmo nome ganhou popularidade. Então adicionavam alguma característica, ou função que a pessoa exercia, ou então usavam o nome do pai. No século XI o uso de um segundo nome se tornou tão comum que em alguns lugares era mal considerado não ter um. Mas mesmo tendo sido o começo para todos os sobrenomes que existem hoje, grande parte dos nomes usado na Idade Média não tem a ver com a família, isto é, nenhum era hereditário.Em respeito aos nomes hereditários, isto é, os nomes que eram passados de pai para filho, é difícil dizer com exatidão quando foi que eles surgiram, pois foi uma prática que se desenvolveu com o passar de centenas de anos.

O uso moderno dos nomes hereditários é uma prática que se originou na aristocracia veneziana, na Itália, por volta do século X ou XI. Os exploradores, voltando das terras Sagradas e passando pelos portos da Itália, tomaram nota deste costume e o espalharam pela Europa. A França, as ilhas Britânicas, e então a Alemanha e Espanha começaram a aplicar esta prática a fim de distinguir os indivíduos que haviam se tornado importantes. Pelos anos de 1370 já se encontra a palavra "sobrenome" em documentos, nas línguas locais.O governo passou a usar cada vez mais documentos e deixar registrados seus atos entre todo o mais. Assim cada vez mais foi importante identificar com exatidão as pessoas.

Em algumas comunidades nos centros urbanos, os nomes próprios não eram mais suficientes para distinguir as pessoas. No campo, com o direito de sucessão hereditária de terras, era preciso algo que indicasse vínculo com o dono da terra, para que os filhos ou parentes pudessem adquirir a terra, já que qualquer pessoa com o mesmo nome poderia tentar se passar por filho. Acredita-se que até o ano de 1450 a maior parte das pessoas de qualquer nível social tinha um sobrenome hereditário, fixo. Este sobrenome identificava a família, provendo assim uma ligação com o passado desta família, e preservando sua identidade no futuro.Não é surpresa o fato de que antigamente a prioridade das famílias era ter filhos homens, para manter o nome, afinal, os filhos homens eram quem passava o sobrenome para as novas gerações, e era muito desgosto para uma família não ter nenhum descendente homem.

No começo dos séculos XV e XVI os nomes de família ganharam popularidade na Polônia e na Rússia. Os países escandinavos, amarrados ao seu costume de usar o nome do pai como segundo nome, não usaram nomes de família antes do século XIX. A Turquia esperou até 1933, quando o governo forçou a prática de sobrenomes a ser adotada em seu povo.Os sobrenomes foram primeiramente usados pela nobreza e ricos latifundiários (senhores feudais), e pouco a pouco foram adotados por comerciantes e plebeus. Os primeiros nomes que permaneceram foram aqueles de barões e latifundiários, que receberam seus nomes a partir de seus feudos ou propriedades. Estes nomes se fixaram através da hereditariedade destas terras. Para os membros da classe média e trabalhadores, como as práticas da nobreza eram imitadas, começaram a usar assim os sobrenomes, levando a prática ao uso comum.É uma tarefa complicada classificar os nomes de família por causa das mudanças de ortografia e pronúncia com o passar dos anos. Muitas palavras antigas tinham significados diferentes na época, ou hoje em dia estão obsoletas. Muitos nomes de família dependeram da competência e discrição de quem os escreveu no registro. O mesmo nome pode muitas vezes estar escrito de diferentes maneiras até mesmo em um documento só. Um exemplo: Carlos Red, que recebeu seu nome por ter cabelos vermelhos (red=vermelho, em inglês), pode ter descendentes prováveis com o sobrenome Reed, Reade, etc.
http://www.meubrasao.com.br/heraldica.php

segunda-feira, 25 de julho de 2016

Comparação da população de procedência açoriana entre quatro freguesias de Santa Catarina


A terra: de Nossa Senhora das Necessidades a Santo Antônio de Lisboa


Segundo Oswaldo Rodrigues Cabral, a ocupação luso-brasileira de Santo Antônio
data de 11 de janeiro de 1698. O capitão-mor de São Francisco do Sul, Domingos Francisco Francisques, procurador do Marquês de Cascaes, último sucessor do donatário da Capitania de Sant’Ana, antes de ter a Coroa Portuguesa readquirido a capitania por compra, concedeu sesmarias de duas léguas compreendidas entre a Lagoa e o Rio Ratones ao Padre Matheus de Leão.

Esta área original das sesmarias compreende hoje os bairros João Paulo, Monte Verde, Saco Grande e os distritos de Santo Antônio de Lisboa e Ratones. A terra confrontava-se ao Sul com a propriedade dos herdeiros de Francisco Dias Velho,considerado o fundador de Nossa Senhora do Desterro. O padre teria se estabelecido com mais vinte casais.126 Se esta ocupação do Padre Matheus de Leão prosperou a historiografia não dá notícias.

Já sobre o segundo povoador, vários historiadores dele se ocuparam. Trata-se de Manoel Manso de Avelar, que é considerado o segundo povoador da Ilha de Santa Catarina e que morava na localidade de Sambaqui. Ele era, em 1725, Capitão de Ordenanças da Ilha quando o governador de São Paulo mandou que aumentasse a população da Ilha e construísse casas cobertas de telha. O capitão dizia residir na ilha desde 1700, era nascido em Lisboa e casado com Urbana Rodrigues Velha, natural de São Francisco do Sul.

Dona Urbana era bisneta de Manoel Lourenço de Andrade, fundador e primeiro capitão mor da Vila de Nossa Senhora da Graça do Rio de São Francisco (atual São Francisco do Sul).

Ainda hoje existem muitos descendentes de Manoel Manso de Avelar através de suas filhas Isabel Rodrigues de Mira, casada com Balthazar Soares Lousada e Margarida de Siqueira, casada com Sebastião Fernandes Camacho. A filha Clara Manso de Avelar, embora casada com Francisco Antônio Branco, não deixou descendentes.


Manoel Manso de Avelar não quis repetir o fim trágico de Francisco Dias Velho, fundador de Desterro morto por piratas. Relacionava-se muito bem com os navios estrangeiros que aportavam na Ilha. O navegante Amédée François Frézier que passou pela Ilha em 1712 relatou que foi bem recebido por Manoel Manso de Avelar, e que após a visita dele ao navio, os habitantes não paravam de chegar em canoas com carregamentos de galinha, 
fumo e frutos. 

Tradição, aliás, que permaneceu entre os moradores de Sambaqui até o fechamento do porto, a prática do escambo, que os moradores chamavam de “negociar ao bordo”. Quando os navios ancoravam entre as Ilhas de Anhatomirim e Ratones muitos moradores saíam com suas canoas carregadas de víveres, frutos, pássaros e renda de bilro ue eram trocados por fazenda, sal ou querosene. Muitas vezes, os que iam negociar a bordo, eram surpreendidos pelo vento sul e precisavam ficar arribados no Forte de Santo Antônio da Ilha de Ratones até a tempestade passar, o que leva geralmente três dias.

O lugar foi florescendo e a 27 de abril de 1750, por provisão episcopal, foi nomeado vigário da freguesia de Nossa Senhora das Necessidades da Praia Comprida, o Padre Domingos Pereira Teles, natural da Ilha do Pico, nos Açores. Antes da freguesia de Nossa Senhora das Necessidades só havia em Santa Catarina a freguesia de Nossa Senhora das Graças do Rio São Francisco, Santo Antônio dos Anjos da Laguna e Nossa Senhora do Desterro. O adensamento populacional se deu com a chegada dos casais açorianos a partir de 1748.

Trabalho de : SÉRGIO LUIZ FERREIRA

“Nós não somos de origem”:

Populares de ascendência açoriana e africana numa freguesia do Sul do Brasil

(1780-1960)

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

No caminho do Sertao de Sao Jose

O povoamento do sertao de sao jose entra no processo que culminou na fundação da Colônia São Pedro de Alcântara, em 1828/29, toda a Província de Santa Catarina constituía-se de uma cidade: Desterro - a capital; três vilas: Laguna, Lages e São Francisco.(6) Sendo sua população predominantemente de origem lusitana.


          À mesma época, a única via de comunicação ligando a freguesia de São José, localizado no continente fronteiro à Ilha do Desterro, e, portanto, também a capital da Província de Santa Catarina, com a vila de Lages, no planalto serrano central, era a modesta estrada de cargueiros que existia desde o final do século XVIII. A abertura desse caminho principiara em 11 de janeiro de 1787, quando, comissionado pelo governador José Pereira Pinto, que para isso recebera ordem do vice-rei, D. Luís de Vasconcelos e Souza, o alferes Antônio José da Costa partiu de São José rumo ao oeste, pela floresta impérvia, juntamente com 12 homens armados, 12 escravos e 7 bestas cargueiras, com a intenção de alcançar a vila de Lages, onde efetivamente chegaram a 15 de agosto do mesmo ano. O referido caminho assim aberto seguia inicialmente pela margem esquerda do rio Maruí (hoje também chamado de Maruim) e, depois, pela mata virgem, até o planalto serrano.(7) 




          O Governador da Capitania de Santa Catarina, Coronel Manoel Soares Coimbra, movido pela sensatez, elaborou, estrategicamente, um plano defensivo para a Ilha de Santa Catarina, planejando a instalação de dois núcleos coloniais às margens do Caminho-de-Tropas para Lages. Os planejados núcleos coloniais seriam constituídos por soldados casados e por lavradores, tendo em vista fins militares. Concebia-se que os militares, constituídos em colônia, além de afugentar os gentios, dedicar-se-iam às tarefas agrícolas e bélicas, constituindo-se em potenciais mecanismos de defesa para a Capitania em caso de emergência ante a fúria dos inimigos, principalmente os espanhóis! Alguns anos após, motivado por desentendimentos administrativos, o Governador Manoel Soares Coimbra foi levado preso a Portugal, inviabilizando a implantação dos núcleos coloniais.

          O Tenente-Coronel João Alberto Miranda Ribeiro, sucessor de Coimbra no executivo provincial, revigorou o plano e reivindicou, veementemente, junto ao Vice-Rei, a sua exeqüibilidade, solicitando, inclusive, a alocação de recursos financeiros no orçamento da Província para viabilizá-lo. O Governador insistiu junto ao Governo constituído do Rio de Janeiro sobre a importância estratégica das fundações dos núcleos coloniais, mas o Conde de Rezende, Dom José Luiz de Castro, não deu maior importância e frustrou o projeto. Com a morte prematura do Tenente-Coronel Ribeiro, em 19 de janeiro de 1800, no Desterro, os planos de instalação dos núcleos coloniais e da implantação da ligação rodoviária litoral-planalto, entraram em prolongada hibernação durante 28 anos. Em 1816, Paulo José Miguel de Brito, funcionário do alto escalão do governo português, escreve sua memória política sobre a capitania de Santa Catarina onde faz constar uma planta com o traçado da estrada para Lages e nela a localização de colônias, recomendando fossem de açorianos. Mas a estrada, bem como o projeto das citadas colônias, não foram imediatamente executadas.


          Para reforçar a colonização e viabilizar a ocupação de vazios demográficos, em setembro de 1828, Monsenhor Pedro Machado de Miranda Malheiros, Imperial Inspetor da Colonização Estrangeira, teve autorização para receber no porto do Rio de Janeiro o navio alemão "Johanna Jakobs", que trazia, da Europa, centenas de imigrantes para o Brasil.(8) 


          Eles são convenientemente desembarcados e alojados na Armação de São Domingos, no Rio de Janeiro, até o final do mês subseqüente. Eram 523 imigrantes originários, em sua maioria, da região de Eifel, localizada no sudoeste da Alemanha, ao norte do Rio Mosela(margem esquerda).(9) Na capital do Império foram acrescentados ao grupo de imigrantes 93 homens liberados da chamada "Legião Alemã",(10) o corpo da tropa de mercenários alemães no Exército Imperial Brasileiro que havia sido dissolvido naquela cidade, assim como 19 ex-integrantes do 27º Batalhão de Caçadores de Santa Catarina, igualmente dissolvido. Eram 146 famílias.(11) Totaliza-se, assim, 635 pessoas. Do Rio de Janeiro foram despachados em 28 de outubro de 1828, pelo Monsenhor Malheiros, a bordo dos veleiros "Luiza" (um brigue) e "Marquês de Viana" (um bergantim), com destino a Desterro (hoje Florianópolis), sul do Brasil, onde aportaram, respectivamente, em 07 e 12 de novembro de 1828. O brigue "Luiza" transportou 276 pessoas e o bergantim "Marquês de Viana", 359 pessoas.(12) 

          Após a chegada ao Desterro, os que foram transportados pelo bergantim "Marquês de Viana" ficaram alojados nos quartéis da capital catarinense (campo de manejo), juntos aos Batalhões 8º, 18º, 27º e 4º de artilharia, enquanto os que vieram no brigue "Luiza", por haverem adoecido durante a viagem, foram "hospedados", involuntariamente, "livre de comunicação", e completamente isolados na Armação da Lagoinha -- antigo estabelecimento de pesca de baleias fundado na costa oriental da Ilha de Santa Catarina. Lá, também, estava aquartelado o 14º Batalhão do Exército. Neste estabelecimento os imigrantes foram amparados, no que tange à assistência médica, por conta do governo provincial. Completamente isolados e em plena ociosidade, requereram, naquela localidade, terras para cultivar e de cuja solicitação não obtiveram resposta.

          Assim ficaram os imigrantes, tanto os transportados pelo "Luiza" quanto os pelo "Marquês de Viana", à espera, impacientes e em parte desanimados diante da morosidade dos poderes constituídos referente aos encaminhamentos elementares visando a sua transferência para a mata virgem.

--
          Essa morosidade tinha motivo: as terras destinadas a recebê-los ainda não haviam sido demarcadas e, portanto, não havia condições humanas para "enfrentar" a floresta. Assim esgotaram-se, nos quartéis, os últimos 50 dias de 1828. Lá passaram o natal e o ano novo, rolando aqui, empurrados dali, sem nenhuma privacidade, dividindo espaço com os soldados da campanha - nenhum cronista registrou como viveram, suas espectativas e esperanças, como reivindicaram seus direitos, como sobreviveram e como ocuparam-se diariamente durante aqueles meses mais longos de suas vidas. Irritados e impacientes diante da insegurança provocada pela peculiaridade da situação, homens habituados ao trabalho e agora ociosos, curtiam desgosto próprio e alheio nas dependências de alojamentos humilhantes.


          O governo provincial catarinense não pudera executar, por conseguinte, antes da chegada dos imigrantes, quaisquer medidas práticas, embora indispensáveis, à instalação ao menos de um núcleo colonial, à falta justamente de decisões administrativas prévias da Corte e do envio dos respectivos recursos financeiros pelo Tesouro Público. Enquanto isso, todo o grupo de imigrantes permanecia alojado nos quartéis do centro da cidade ou na Armação da Lagoinha, em situação análoga ao caos psicológico e material. No decorrer desse tempo muitas queixas foram apresentadas, ora ao governo catarinense ora às autoridades ligadas à colonização, na Corte, por causa da situação difícil decorrente do alojamento que a cada dia se agravava. Queixavam-se, outrossim, da iminente perda das sementes, trazidas da Alemanha, destinadas às primeiras culturas na nova colônia. Em mostra de impaciência e irritação, um grupo de 26 imigrantes alojados na Armação da Lagoinha, não obstante a beleza paradisíaca da praia em cujas imediações se encontravam, em petição datada de 25 de janeiro de 1829, reiterava ao presidente Albuquerque Mello, da Província de Santa Catarina, seu pedido no sentido de encaminhá-los sem novas delongas para o núcleo colonial, como lhes havia sido prometido ainda na Europa. Manifestando o desejo de sair da imposta e exasperante ociosidade, ofereceram-se àquele governante para realizar trabalhos, como, por exemplo, a abertura de estradas. Veja parte do teor da petição:

          "... uma vez mais tomam a liberdade de suplicar à V. Exa. que os fará transportar à colônia, o mais cedo possível. E eles já apresentaram à V. Exa. uma relação do quanto eles têm sofrido, desde que saíram de sua pátria, há quase um ano, e não podem deixar de recear que o tempo que aqui tem de estarem lhes será tristíssimo. A maior parte deles trouxe sementes de proveitosas plantas, que querem experimentar se aqui produz, mas com a dilatação do tempo, se tornaram incapazes disso e, conseqüentemente, perdem-se. Se há algum trabalho a fazer, como caminhos etc. os colonos para isso se oferecem a V. Exa. (...) E como desejam ocupação, e por isso lhes ser muito agradável que V. Exa. se digne ocupá-los, o mais breve possível, no emprego acima suplicado".(13)

          Entretanto, em 25 de outubro de 1828, antes mesmo da chegada dos imigrantes a Desterro, um Aviso Imperial determinava ao Presidente da Província que os colonos transportados no bergantim "Marquês de Viana" fossem estabelecidos, necessariamente, entre Desterro e a vila de Lages no lugar que "mais comodidade oferecer para uma povoação". Além disso, o citado Aviso Imperial determinava, também, a concessão da diária de 160 réis para cada imigrante no decorrer de um ano, cujo pagamento deveria ser efetuado pela Junta da Fazenda da Província de Santa Catarina.


          Não obstante a inexplicável demora, os imigrantes do "Marquês de Viana" ficaram amedrontados pela notícia de que os indígenas freqüentavam o vale do Maruí, nas imediações de onde seriam instalados; por isso, muitos ficavam temerosos e se recusavam terminantemente a sair da cidade. Este terror precipitado poderia fazer malograr o futuro estabelecimento colonial se o Presidente da Província não os animasse, usando como argumento a concessão da diária de 160 réis a cada colono que se deslocasse até o lugar determinado para a fundação da colônia. Este incentivo foi bem sucedido e teve ótimos resultados.(14)


          Em função do Aviso Imperial datado de 25 de outubro, o Presidente da Província ordenou imediatamente ao Major de Milícias reformado, Silvestre José dos Passos, conceituado homem público e último morador às margens da projetada estrada para Lages, no vale do Maruí, para que fosse reconhecer o "lugar que mais comodidade oferecer", sua salubridade e fertilidade para a fundação de uma colônia.(15) 


          Concluído o reconhecimento do sertão, em 7 de dezembro de 1828, Passos apresentou à administração provincial um relatório onde, apesar de admitir a falta de conhecimentos para bem incumbir-se da missão, apresenta uma "tosca configuração e descrição do projetado estabelecimento" de uma povoação. Albuquerque Mello, dois meses após, pela portaria de 09 de fevereiro de 1829, nomeou Passos diretor da "Colônia dos Alemães", com a incumbência de implantar "a abertura da projetada estrada" para Lages e de erguer os edifícios necessários para a recepção dos imigrantes. Eram conseqüências das imperiais determinações recebidas.

          Decorridos quase três meses após a chegada do bergantim "Marquês de Viana" à Ilha de Santa Catarina, em 11 de fevereiro de 1829 o primeiro grupo de imigrantes alemães foi transportado para a freguesia de São José, onde ficaram temporariamente alojados. Em 17 de fevereiro, eles ainda lá continuavam retidos. Motivo: falta de ferramentas e de recursos financeiros para prosseguir o trabalho. Além disso, uma grande enchente inundara as várzeas do rio Maruí, tornando-a intransitável.


Mas, em 1º de março, sabe-se, por carta subscrita pelo próprio diretor de colônia, que a leva inicial de imigrantes, aproximadamente 60 pessoas, já se encontrava alojada nas dependências de seu engenho localizado no sertão de São José, no vale do Mar.

 Após terem feito derrubadas na mata, construíram uma palhoça com a extensão de 50 palmos de comprimento e implantaram parte da estrada ("até o ribeirão do Planxão"). Naquela data, estavam, de acordo com a carta do diretor, empenhados na edificação de mais uma palhoça e alguns barracões para a moradia provisória das famílias.(16) 


          As ordens transmitidas pelo governo imperial a Albuquerque Mello a respeito da localização dos imigrantes alemães em solo catarinense mencionavam, invariavelmente, no início e até meados de 1829, apenas os colonos transportados, do Rio de Janeiro para Santa Catarina, no bergantim "Marquês de Viana". Faltava, portanto, em inexplicada incúria, instrução da Corte quanto aos colonos trazidos no brigue "Luiza" e alojados, provisoriamente, na Armação da Lagoinha. Tudo indica, porém, que o presidente da província felizmente percebeu logo a gravidade de tal deficiência e tratou de bem solucionar o problema, não sem antes terem ocorrido perturbações de ordem interna. Em evidente propósito de minorar os sofrimentos dos imigrantes e a fim de atender, satisfatoriamente, ao menos parte dos rogos e reclamações que lhe estavam sendo apresentados desde os primeiros meses e ao longo de 1829, foram encaminhados aos poucos, sob o silêncio da Corte e responsabilidade pessoal do Presidente Albuquerque Mello, para a "Colônia dos Alemães" dirigida por Passos, os colonos abrigados na Armação da Lagoinha.


          Em janeiro de 1830, ainda estavam aquartelados na Armação da Lagoinha muitos ex-soldados do 27º Batalhão destinados à futura colônia. Estavam desgostosos e extremamente impacientes, resultado da ociosidade, do atraso no pagamento da diária de 160 réis, bem como de sua transferência para a colônia. Por isso, exigiram, rudimentarmente, a solução imediata dessas pendências. Os desgostosos deslocaram-se da Armação da Lagoinha para o centro da cidade, onde atacaram a casa do Presidente da Província, insultando-o atrozmente. Para fazê-los calar, o Presidente, diante da falta de recursos públicos, paliativamente solicitou a um negociante que lhes adiantasse uma certa soma em dinheiro, sob a sua garantia pessoal. Assim,


          "Sossegaram alguns dias os colonos, mas voltaram novamente às representações e depois ao desacato formal. Intervindo a força pública, foram presos 15 dos turbulentos, mais em evidência, e enviados processados, com competente devassa, para a corte, pela charrua 'Jurujuba' em abril seguinte".(17)


          Quem consulta as poucas fontes históricas existentes sobre esses episódios, não foge à impressão de que o retardamento no envio dos colonos a seu destino prende-se ao fato de não haverem providenciado, a tempo, a abertura completa da estrada e a necessária demarcação das terras destinadas a mais de cem famílias. Um dos vigários de São José, e um dos poucos historiadores sobre os primórdios da colônia apresenta, em sua afamada memória histórica, a "certidão da nascimento" de São Pedro de Alcântara:


          "O inspetor da colônia, apenas recebeu as ordens e instruções com que devia dar princípio à sua comissão, marchou a explorar o terreno para o futuro estabelecimento. Logo que chegou às terras devolutas, depois de tê-las examinado minuciosamente, escolheu o lugar que lhe pareceu mais azado para servir de logradouro público ou arraial, e aí demarcou um quadro, em cujo meio deixou uma pequena praça bordada de duas ruas, que denominou, uma de São Pedro de Alcântara e outra de Albuquerque. Em seguida fez levantar vinte palhoças, para nelas receber os colonos, até que estes fizessem casa dentro das datas que lhes deviam ser demarcadas..."(18)


          Na mata virgem, os trabalhos elementares eram executados de uma forma paulatina, mas progressiva. Em 10 de maio de 1829, Silvestre José dos Passos, dando ciência do desenvolvimento dos serviços a ele confiados, afirma já ter construído 36 palhoças para a habitação provisória dos imigrantes. Com relação à estrada projetada, afirma que sua implantação chega ao local denominado "Galão". Cita alguns acidentes ocorridos com os imigrantes quando da derrubada da mata:

"estes acontecimentos e outros de acidentais moléstia é bastante motivo para lastimar o estado destes colonos, em desamparo da medicina, igreja e cemitério".(19) 


          Diante dos contratempos quando do alojamento nos quartéis das 146 famílias que se destinaram a formar a nova colônia, 14 se deixaram ficar na cidade e seus arrabaldes e, por isso, só 132 datas foram demarcadas para igual número de famílias. Cada data media de 50 a 100 braças de frente, segundo o número de pessoas que continha cada família; todas, porém, com 750 de fundos, cujas frentes davam à estrada que conduz à freguesia de Lages.(20) Essas terras que a princípio seriam férteis, além de sáfaras e de superfícies acanhadas, demostravam qualidade mediana e, às vezes, até infrutífera.

DISTRIBUIÇÃO DE LOTES DE TERRA (21)
N.
IMIGRANTES
E. CIVIL
FILHOS
EXTENSÃO
POSSE
LOCALIZAÇÃO
01
Karl Payeken e
Wilhelm Ruete
Solteiros
__
100 x 800
braças
09-07-1829
Lado norte da
Estrada
02
Nikolaus Deschamps e
Katharina Eich
Casado
03
65 x 800
braças
09-07-1829
Lado norte da
Estrada
03
Heinrich Bohnen e
Maria Ângela Brandt
Casado
06
75 x 800
braças
09-07-1829
Lado norte da
Estrada
04
Johann Hansen e
Katharina Münter
Casado
__
70 x 800
braças
10-07-1829
Lado norte da
Estrada
05
Johann Klocker e
Anna M. Deschamps
Casado
__
34 x 800
braças
10-07-1829
Lado norte da
Estrada
06
Heinrich Conrad e
Ana Barbara Welter
Casado
06
55 x 800
braças
10-07-1829
Lado norte da
Estrada
07
Franz Caspar Ostermann e
----------------------
Viúvo
__
30 x 800
braças
13-07-1829
Lado norte da
Estrada
08
Johann Alflen e
Katharina Mertens
Casado
01
42 x 800
braças
22-07-1829
Lado norte da
Estrada
09
Matthias Palm e
Maria Philippi
Casado
05
100 x 800
braças
22-07-1829
Lado norte da
Estrada
10
Georg Wagner e
Maria K. von Kurz
Casado
06
100 x 800
braças
22-07-1829
Lado norte da
Estrada
11
Christoph Schmitz e
Cristina Gesser
Casado
02
80 x 800
braças
23-07-1829
Lado norte da
Estrada
12
Johann Gesser (22)
Viúvo
05
60 x 800
braças
23-07-1829
Lado norte da
Estrada
13
Konrad Dör e
Maria Anna Rohrs
Casado
02 (23)
80 x 800
braças
23-07-1829
Lado norte da
Estrada
14
Johann J. Gödert e
Maria Anna Schwartz
Casado
05
80 x 800
braças
11-07-1829
Lado sul da
Estrada
15
Jakob Neckel e
Maria Gertrud Wolf
Casado
05
104 x 800
braças
11-07-1829
Lado sul da
Estrada
16
Matthias Meurer e
Anna M. Martendahl
Casado
__
60 x 800
braças
14-07-1829
Lado sul da
Estrada
17
Johann Martendahl e
Katharina Normann
Casado
08
108 x 800
braças
11-07-1829
Lado sul da
Estrada
18
Matthias Rinkus e
Anna Maria Hesser
Casado
03
80 x 800
braças
15-07-1829
Lado sul da
Estrada
19
Peter Conradi e
Maria M. Thomas
Casado
02
77 x 800
braças
16-07-1829
Lado sul da
Estrada
20
Christoph Sabel e
Agnes Conradi
Casado
01
80 x 800
braças
17-07-1829
Lado sul da
Estrada
          No início da instalação da colônia, um novo surto de insatisfação geral invadiu os imigrantes: além de atraso no pagamento das diárias a que faziam jus, havia agora condições imprevistas e adversas de duro trabalho na mata: as terras, além de íngremes e de pouca fertilidade, mostravam-se, em grande parte, desfavoráveis às atividades rurais. Já em fevereiro/março de 1829, portanto, durante os trabalhos iniciais no local escolhido para o estabelecimento da colônia, principiaram a ocorrer as primeiras deserções: algumas famílias decidiram fixar residência em Desterro e em São José, outras foram instalar-se, a partir de 6 de maio de 1830, na região do Alto Biguaçu (Louro),(24) lançando os alicerces da cidade de Antônio Carlos. Naquela ocasião, solicitaram, também, a concessão de terras mais adequadas às atividades rurais no Patrimônio das Caldas do Cubatão(25) (hoje Caldas da Imperatriz e Águas Mornas). Tal pedido, porém, foi indeferido, sob a justificativa de que aquelas terras não eram devolutas e, além disso, porque estava fora do trajeto do projetado Caminho-de-Tropas para Lages.


          Viram logo os colonos que toda a região onde estavam instalados não era apenas acidentada, mas ainda muito pedregosa, dificultando qualquer lavoura. A própria sede do arraial de São Pedro de Alcântara, a futura freguesia, apresentava-se apertada entre colinas, com pouca possibilidade de tornar-se um centro maior. E os alemães recém-vindos se perguntavam se não havia em toda a Província de Santa Catarina terras mais próprias para o amaino e o plantio. Havia muito mais e bem melhores. Entretanto, ficara decidido por escalões superiores que o "caminho de sertão" em direção aos campos de Lages devia passar por ali. Era a razão de ser da "Colônia dos Alemães" ali fundada. 


          Após os colonos terem recebido suas terras, executada a derrubada e iniciada a plantação, algumas fontes históricas no levam a crer que, para infelicidade dos imigrantes, uma parte destas ainda estava onerada com títulos de propriedade mais antiga. Formaram-se contendas e processos que, afinal, foram liquidados pela compra das mesmas terras pelos imigrantes.(26) O cotidiano dos primeiros anos foi marcado pela insegurança gerada por problemas fundiários e pelas deficiências dos serviços públicos essenciais. 


          Ordens do governo imperial a respeito do estabelecimento definitivo dos imigrantes transportados pelo "Luiza" em solo catarinense só viriam, aliás, através do aviso de 14 de julho de 1829, quando alguns já haviam sido instalados, por obra e graça do Presidente da Província, na colônia: eram destinados a formar uma segunda colônia teuta, separada da dos imigrantes transportados no "Marquês de Viana", sobre a estrada São José a Lages e que ficaria situada meia légua mais para o interior, além de São Pedro de Alcântara. Lá deveriam ser instalados, "dando-lhes terras apropriadas e mandando-lhes fazer acomodações". Essa segunda Colônia, denominada de Santa Filomena, de acordo com sua concepção estratégica no Caminho-de-Tropas, nunca foi implantada,(27) mas evidencia a execução do antigo plano militar de estabelecer duas povoações no caminho que conduzia a Lages que serviriam de base estratégica para fustigar possíveis inimigos invasores da Ilha de Santa Catarina. Assim temos a evidência de que a idéia de serem duas colônias foi mantida em 1829: meia légua acima do primeiro núcleo colonial seria estabelecido um outro, com os colonos vindos da Lagoinha.


          Instalados nos lotes coloniais os imigrantes construíram, então, sua primeira obra comunitária. Nascia da contribuição dos colonos a primeira igrejinha no topo da serra de Santa Filomena, junto às nascentes do Rio do Louro, para cuja padroeira escolheram a Santa Bárbara. Supomos que era tosca, de madeira bruta, construída com folhas de palmeiras, da mesma forma como seus ranchos de palha, cujas paredes e cobertura foram confeccionadas com as folhas trançadas da palmeira guaricana e em cujas dependências o vento sul soprava pelas gretas nos domingos frios de inverno rigoroso. Mas eles sentiam necessidade de se robustecerem na esperança e na fé e de continuarem unidos diante das adversidades naturais da incipiente vida na floresta virgem.(28) Contíguo à pequena capela foram enterrados os pioneiros imigrantes, que não resistindo às adversidades da "vida nova", cederam a sua existência. A cada domingo, ou após o culto divino, visitavam os túmulos dos entes queridos. Ali, além das lágrimas, semeavam a esperança de uma vida melhor. Emergiu então, em plena floresta, um minúsculo aglomerado habitacional, a base da incipiente fundação colonial, constituindo-se no "centro" devocial e social dos imigrantes. 


          Instalada a Colônia dos alemães, era preciso denominá-la. Disso encarregou-se o Presidente da Província Albuquerque Mello. Em mensagem datada de 11 de julho de 1829, comunicou ao imperial ministro José Clemente Pereira que dera à "Colônia dos Alemães" a denominação oficial de São Pedro de Alcântara, "em atenção à família imperial reinante".(29)
          Das muitas promessas que já na Alemanha haviam sido feitas aos imigrantes por meio de agentes do governo brasileiro,(30) somente algumas foram cumpridas: a das terras gratuitas e de madeiras quantas precisassem cortar. Deixaram, entretanto, de receber as ferramentas, a diária, as sementes. Miguel de Souza Mello e Alvim, quando Presidente da Província, fez várias representações escritas à Corte (Rio de Janeiro), taxando de "indecoroso" o procedimento do Governo Imperial em relação aos colonos de São Pedro de Alcântara, "cujos habitantes (dizia) são bons, laboriosos, mas estão sofrendo as maiores misérias, por motivos que eles não têm culpa".(31) 


          O primeiro diretor da colônia, Silvestre José dos Passos, fazendeiro aposentado , que, por sua idade avançada, já havia pedido repetidas vezes exoneração do cargo, "por não concorrerem em mim (argumentava) os requisitos que exige um tal serviço". Passos exerceu seu cargo somente até o momento em que todos os imigrantes tinham tomado posse de seus terrenos. Eleito e nomeado Juiz de Paz da freguesia de São José, onde assumiu seu cargo em 25 de janeiro de 1829, deixou a administração da colônia a 06 de fevereiro de 1830. Depois, os imigrantes elegeram Nikolaus Henkenn (Heinzen?) como líder e, após a morte deste, seu filho Peter Henkenn (Heinzen?).(32) Sucedeu a Passos, na função, o súdito alemão João Henrique Soechting, que havia sido tenente do 27º Batalhão de Caçadores e participara, até o ano anterior, na campanha militar do Império contra as províncias unidas do rio da Prata.


          No mês precedente a essa troca de diretores, e apenas doze dias após sua posse no governo provincial, o presidente Mello e Alvim fez, a 26 de janeiro de 1830, acompanhado de várias autoridades,(33) uma excursão a São Pedro de Alcântara, com o propósito de inteirar-se da situação dos colonos.

          Dessa viagem de inspeção ele depois deu notícia (ofício n. 14, de 15 de fevereiro de 1830) ao Marquês de Caravelas, novo Ministro do Império, no qual manifestava sua admiração pelo trabalho imenso que, "assim como por encanto, no curto prazo de seis meses", "aquela laboriosa e infatigável gente" havia feito em terreno áspero e montanhoso, convertendo o sertão ínvio "em terreno cultivado coberto de seara de milho, trigo, legumes e todas as plantas do país, além de outras cujas sementes trouxeram da Europa". Justamente por isso, no mesmo relatório, o presidente da província cobrava do governo imperial, reiterando os pedidos de seu antecessor, o reinício do suprimento regular a Santa Catarina, pelo Tesouro Público, de recursos financeiros destinados ao pagamento das diárias de subsistência dos colonos, como meio indispensável de garantir a continuidade do elogiado trabalho realizado em São Pedro de Alcântara.(34) 


          Na visita que fez Mello e Alvim a São Pedro de Alcântara resultou que, na ocasião, in loco, determinasse ao agrimensor e sua comissão(35) a abertura de um caminho rumo do norte, em direção ao Rio Biguaçu, para que lá fizessem demarcar um lugar para a instalação da freguesia; a futura sede do núcleo colonial. Seguindo as orientações de Mello e Alvim, concluiu a comissão da impossibilidade da abertura do solicitado caminho em função do terreno excessivamente montanhoso. Mas, em 14 de fevereiro de 1830, o diretor João Henrique Soechting, em carta ao Presidente da Província, anuncia que a referida comissão descobriu, rumo do sul, a apenas 300 braças da estrada velha, uma planície que teria mais de 200 braças de extensão, além de bastante água. O Presidente Mello e Alvim responde à Soechting argumentando que não poderia definir o lugar da freguesia sem antes empreender nova visita à colônia. Assim, a definição da localização da freguesia foi protelada.

          Em relatório sobre sua visita à colônia, o Presidente Mello e Alvim reclama da distribuição dos lotes de terras aos imigrantes, cujo ato teria sido feito sem critério e, portanto, segundo ele, o mais irregular e injusto possível. Continua seu relatório afirmando que a administração provincial, após a suspensão do pagamento das diárias para subsistência dos imigrantes, faz todo o possível, 


          "para reduzir esta desgraçada gente, no meio de uma terra inóspita, para onde vieram atraídas pelas mais brilhantes promessas, à dura alternativa, ou de desertarem, abandonando suas mulheres e filhos à desesperação e à miséria, ou de sucumbirem todos vítimas da mesma miséria, privações e fome. (...) Contudo poucos desanimaram. Eles se lançam avidamente ao trabalho: os rigores do tempo, a rudeza selvática do país, nada pode empecê-los: homens, mulheres e crianças, tudo trabalha com maior acerto, e a mais acizada distribuição de serviços; enquanto os mais robustos derrubam, queimam matas e plantam a terra, os outros, e as crianças cuidam na construção de suas casas, tecem os tetos de palha, para as cobrir, tratam de toda a economia doméstica, e assim, como por encanto, no curto prazo de seis meses, aparece um espaço de três léguas de comprimento sobre 200 braças de largura, convertido de sertão bárbaro e intransitável, em terreno cultivado e coberto de seara de milho, trigo e legumes e todas as plantas do país, e de outras cujas sementes trouxeram da Europa, assim como povoados de pequenas e cômodas habitações edificadas, com uma facilidade verdadeiramente pasmosa".(36)


          Insistia o Presidente Mello e Alvim, por fim, pela solução das súplicas dirigidas ao governo imperial pelo seu antecessor, por três vezes - em 6 de agosto, 9 de setembro e 17 de novembro de 1829 - porque dizia não mais ser possível ministrar aos colonos os socorros que lhe foram prometidos e assim seria melhor desenganá-los de uma vez e renunciar definitivamente ao projeto de fundação de alguma nova colônia.(37) Era o governo assumindo suas limitações e desobrigando-se das promessas empenhadas na promoção da colonização. 


          Com a instalação de novas famílias, a colônia faz sua população aumentar. Em setembro de 1830, o diretor Soechting realiza levantamento censitário e constata: 154 famílias, sendo 136 na estrada para Lages e 18 no Alto Biguaçu (Louro). Outro recenseamento, efetuado em dezembro do mesmo ano, indicava ligeiro aumento da população: 168 famílias, com 652 pessoas, 377 homens e 275 mulheres, aí incluídos adultos e crianças.(38) Quando estavam os colonos colhendo de seus primeiros roçados e de seus quintais à beira-rio, frutos do suor e de lágrimas incontidas, caiu sobre São Pedro de Alcântara, a 15 de abril de 1830, um devastador temporal com granizo, arruinando a maioria das lavouras. A 13 de novembro do mesmo ano, outra tempestade bem mais ruinosa, infligiu desânimo.(39) Terceira devastação veio a 15 de dezembro do mesmo ano: a lei que proclamava "abolida em todas as Províncias de Império a despesa com a Colonização Estrangeira". Este ato administrativo equiparou-se, indiretamente, a um virtual decreto de emancipação da colônia. Era um inesperado presente de Natal que a Corte reservara aos colonizadores e que, por conseguinte, retraía o governo imperial de qualquer cooperação direta, abandonando sua iniciativa de promover e dirigir a imigração. Bem podemos imaginar a insegurança que tomava feições de desespero reinante entre a população. Enquanto o governo ensaiava, aos poucos, um forçado esquecimento da colônia e de seus habitantes, paradoxalmente, o núcleo colonial chamava a atenção de viajantes estrangeiros...

          Em outubro de 1835, um conde dinamarquês, Frederik Christiam Raben, visitando São Pedro de Alcântara, descreve aspectos botânicos, entre os quais extraímos os seguintes registros históricos que anotou em seu diário:


          "Uma doença denominada mal-de-terra é comum aqui (São Pedro de Alcântara). As pessoas ficam pálidas, perdem energia, e se vai longo tempo de recuperação. Diz-se provir de má dieta. Muitos são pobres. O povo em geral só come carne-seca com farinha de mandioca e milho torrado em lugar de café. A saudade parece torturar a maioria dos colonos, que desejam voltar para a sua pátria, mas a maior parte não pode por falta de recursos. (...) Foram-lhe feitas promessas que terminaram mal cumpridas. Não há escolas. Se as crianças necessitam aprender algo, os próprios pais precisam ensiná-las. (...) Um fulano separou madeira para construir uma igreja, mas a obra parou. Na Colônia há duas ou três capelas, onde o povo se reúne para orar e cantar".(40)


          Diante de parte das promessas não cumpridas, de compromissos desonrados, de terras íngremes e de baixa fertilidade, os colonos de São Pedro de Alcântara, desiludidos com a "terra prometida", em 1836 começaram a migrar. Reiteraram a solicitação de terras nas imediações de Caldas do Cubatão e lá fundam Vargem Grande(41) migram também para o vale do Itajaí Açu, onde lançam os fundamentos das povoações de Belchior e Pocinho - hoje município de Gaspar - e também de Brusque.(42) Posteriormente, toda Santa Catarina, e por extensão o Brasil, foi recebendo sementeira do braço forte dos colonos desse núcleo pioneiro.


          A 13 de abril de 1844, o presidente da província de Santa Catarina, Antero José Ferreira de Brito, após a aprovação da Assembléia Legislativa, sancionou a lei n. 194, que erigia em freguesia, e à condição de Paróquia em 23 de abril, com os limites que indicava, o arraial da Colônia São Pedro de Alcântara, com patrono homônimo,(43) desmembrando-o da paróquia da Vila de São José. Pouco depois, a lei n. 250, de 31 de março de 1848, alterava os limites orientais da nova freguesia. Confirmada pelo Bispo do Rio de Janeiro, em visita pastoral à Província, em 1845, o citado prelado "encarregou-nos o regime da nova paróquia", escreve o Pe. Joaquim Gomes de Oliveira e Paiva, que paroquiava em São José. Efetivamente a nova paróquia começou a funcionar alguns anos mais tarde, ficando ao encargo do Monsenhor Manoel Joaquim da Paixão, que também acumulava a função de vigário de São José.

          "Nesse tempo os colonos, querendo também partilhar da munificência de S. M. o Imperador, dirigiram-lhe um requerimento, pedindo-lhe uma esmola para a reedificação da nova matriz; o digno monarca, pronto sempre a fazer generosos donativos em prol dos templos e estabelecimentos pios, os acolheu favoravelmente, indagou com interesse a respeito do estado da colônia, e mandou entregar ao presidente da Província certa quantia para ser aplicada ao conserto da matriz de São Pedro de Alcântara. Os alemães ficaram encantados da afabilidade com que o Imperador os recebeu (tratava-se já de D. Pedro II), e não cessaram de falar do augusto filho da arquiduquesa Leopoldina - assim se exprimiam em referência à virtuosa primeira Imperatriz do Brasil de saudosa recordação".(44)


          Encarregado pastoralmente da móvel paróquia, o Pe. Paiva, em 26 de maio de 1845, realizava sua primeira visita a São Pedro de Alcântara para ali oficiar atos religiosos. Dessa visita primeira, Pe. Paiva anotou detalhes impressionantes sobre o desenvolvimento da colônia e costumes de seus habitantes. Assim descreve:


          "Ao entrar no arraial da colônia não se oferece outra vista além de uma larga rua, que conterá vinte edifícios, e cujos intervalos serve de praça; porquanto os alemães, apartando-se do risco que lhes dera o inspetor Passos, julgaram mais conveniente estender-se pela margem do Maruí. Contudo, ainda que pequeno, o arraial apresenta um agradável e interessante aspecto, máxime nos dias em que os colonos aí concorrem para a celebração dos ofícios divinos(...). Durante o sacrifício da missa... não pude deixar de sensibilizar-me a ver até os meninos de seis anos cantar de cor muitos dos salmos, pronunciando admiravelmente as palavras latinas. A um dos lados da igreja está o cemitério, onde, além de uma grande cruz plantada... observei outras muitas, porém pequenas, fincada sobre cada sepultura, e todas enfeitadas de flores e festões de papel picado, muito principalmente as que assinalavam os jazigos de inocentes. Enquanto dura a visita paroquial... os colonos, católicos romanos, à exceção de três ou quatro famílias luteranas, não perdem um só dia de missa... para o que desprezam a longitude de três ou quatro léguas, muitas vezes por caminhos intransitáveis".(45)


          A colônia São Pedro de Alcântara florescia às margens da estrada que a atravessa em direção à vila de Lages. Mas, poucos anos mais tarde, o governo veio a construir, na mesma direção de Lages, uma estrada paralela até o alto das Taquaras, na Serra da Boa Vista, de trânsito mais fácil e talvez menos íngreme,(46) que subia o Vale do Cubatão, via Santo Amaro da Imperatriz e Águas Mornas. A transferência de parte do trajeto da estrada via vale do Cubatão, em detrimento do vale do Maruí, "isolou" economicamente São Pedro de Alcântara, em função da privação do comércio fomentado pelos transeuntes, principalmente os tropeiros. Foi a estagnação econômica de São Pedro de Alcântara. 


          Alguns anos mais tarde a população da colônia, em 1848, contava com 145 famílias num total de número de 700 habitantes, não contando neste número muitas famílias que mudaram o domicílio para a margem dos rios Biguaçu, Tijucas e Itajaí, e muitos que residiam na vila de São José e na capital. Se os colonos tivessem todos permanecidos no ponto onde foram instalados, de certo poder-se-ia contar na colônia São Pedro de Alcântara, em 1848, perto de 3.000 pessoas, escreve o Pe. Paiva.(47) Seis anos mais tarde, em 1854, contava a Colônia com 1.500 habitantes, sendo trinta e tantos escravos, trezentos estrangeiros e mil e tantos brasileiros, entre descendentes de colonos e naturais do país.(48) 
 
        
Tirado do Blog deToni Vidal JOCHEM e complementado Por Cacilda de limas Francener